30 de junho de 2016

A vontade de sair?

Peter Hallward


Tradução / Tem-se falado muito, nos últimos dias, sobre a necessidade de respeitar “a vontade soberana do povo britânico”. Uma pergunta simples foi feita, uma resposta simples foi registrada.

Tal como os principais líderes partidários de ambos os lados do referendo, a maioria dos comentadores da esquerda parece concordar com Owen Jones quando afirma que, aconteça o que acontecer, não pode haver argumentos para inverter a vontade democrática expressa pelo povo britânico – o que está feito está feito.

As pessoas falaram. Os princípios básicos da democracia não exigem que o nosso governo faça simplesmente o que lhe dissemos para fazer?

Há três razões pelas quais a resposta a esta questão em particular não é tão simples quanto parece.

Em primeiro lugar, o referendo fez uma pergunta sobre a adesão à UE, mas ficou imediatamente claro que milhões de pessoas aproveitaram a oportunidade para responder a uma pergunta relacionada, mas bem diferente, e, sem dúvida, uma pergunta essencialmente diferente – uma pergunta sobre exploração, austeridade e o impacto brutalmente desencorajador do capitalismo neoliberal.

Durante décadas, os eleitores britânicos – tal como os eleitores de toda a Europa – foram deliberadamente privados de qualquer ocasião real para responder a esta pergunta, ou mesmo para a colocar.

No que diz respeito às consequências básicas do Thatcherismo, passámos os últimos vinte anos a viver no equivalente a um Estado de partido único. Negada qualquer possibilidade directa de dizer “não” a níveis angustiantes de desigualdade e precariedade, uma enorme fração do eleitorado usou o referendo para dizer isso mesmo, e com toda a razão.

Todos da esquerda podem apoiar uma rejeição coletiva das políticas destinadas a intensificar a exploração e a dominação de classes e a canalizar quantias grotescas de dinheiro e poder dos pobres para os ricos. Ninguém contesta que a UE está atualmente organizada como uma oligarquia antidemocrática, o que tem ajudado as elites nacionais e transnacionais a imporem políticas neoliberais punitivas em todo um continente.

E a grande vantagem de perseguir tais políticas de austeridade em uma escala devidamente continental, naturalmente, é que ela permite aos governos reacionários cortar recursos públicos e, ao mesmo tempo, desviar a responsabilidade por esses cortes para “forasteiros” infelizes que sempre podem ser responsabilizados, ao contrário de todas as evidências, por receberem mais do que sua parcela justa.

Nunca os fracassos da UE foram tão duramente expostos. No entanto, as abordagens otimistas da movimento Lexit ao debate do referendo basearam-se numa equação permanente de reestruturação neoliberal com a adesão permanente a uma UE “irreformável”.

Mas a verdade é que as principais figuras de ambos os lados da campanha do referendo apoiaram, e continuarão a apoiar, uma maior e mais profunda privatização e mercantilização. É ilusório imaginar que um governo anti-neoliberal possa de alguma forma emergir como resultado de disputas temporárias dentro do Partido Conservador, muito menos como resultado de um golpe Blatcherite (Blair +Thatcher) dentro de um Partido Trabalhista Parlamentar não representativo.

Nada aguçou e clarificou tanto o debate sobre o referendo, que é incessantemente enganador, como o seu resultado. E se, como parece provável, este resultado conduzir agora a mais terceirização, estagflação e mais desemprego local, então a escolha dos bodes expiatórios já foi feita, e as consequências feias são impossíveis de prever.

Quanto a uma UE alegadamente irreformável e impenetrável, parece um pouco cedo para dizer; reapropriar-se da Europa a partir de baixo seria de facto imensamente difícil, mas não impossível, e ao longo do tempo certamente menos difícil – na sequência do 15-M, do voto Oxi, de Nuit Debout, etc., e aliado de pessoas como Podemos e a Esquerda Europeia (quaisquer que sejam as suas actuais limitações) – do que tentar em relativo isolamento arrancar a pequena Inglaterra aos Conservadores.

Uma segunda razão pela qual poderíamos questionar os apelos recentes dirigidos a soberania do povo prende-se com o próprio significado dessa palavra fetichista por excelência: soberania.

Mesmo o olhar mais superficial sobre a história da teoria política mostra como a noção moderna de soberania implica antes de mais nada uma relação de comando imperativo – uma relação que assume e exerce a supremacia de um ator ou partido sobre todos os outros.

Esta noção de uma autoridade insistentemente de comando era estranha às teorias medievais da lei e da política; elas compreendiam a lei menos em termos de comando do que de costume e de precedente estabelecido.

Quando Jean Bodin forneceu o primeiro relato sistemático da soberania em seus “Seis Livros da República” (1576) – definindo-a como o maior poder de comando – ele também enfatizou essa distinção. O costume toma sua força pouco a pouco, observou ele, mas a lei vem de repente e tira seu vigor daqueles que têm o poder de comandar a todos.

Como os teóricos da soberania variando de Hobbes e Espinosa a Rousseau iria continuar a argumentar, no entanto, tudo depende da posse real de tal poder. Tudo depende da aquisição real e material dessa capacidade de realmente comandar e prescrever.

Dito de outra forma, querer o fim é sempre querer os meios. Afirmar o povo (ao invés de um monarca ou uma aristocracia) como soberano – se é para significar qualquer coisa – deve significar uma prontidão para adquirir e usar todos os meios que o povo possa precisar para comandar a todos, e em particular para comandar aqueles mais bem colocados para resistir a eles, isto é, os ricos e os privilegiados.

A este respeito, a campanha Leave tentou certamente explorar um tema que está atualmente a ser tratado com grande efeito retórico por partidos de extrema-direita em todo o mundo. Como as consequências do capitalismo desenfreado continuam a chegar a casa, todos de Marine Le Pen a Donald Trump estão se alinhando para dizer que é hora de “retomar o controle”.

A ironia é que estas figuras propõem reafirmar o controle confiando precisamente nos mecanismos de Estado-nação centrados no interior que já se revelaram tão impotentes face à globalização neoliberal e à fuga de capitais.

São os processos contínuos de mercantilização, terceirização, financeirização e assim por diante que têm devastado as vidas e os empregos das pessoas comuns, no Reino Unido e em todos os outros lugares – muito mais do que as mudanças perturbadoras nos padrões de migração que se seguem em seu rastro.

Alguém acredita que um Parlamento britânico mais jingoísta, adornado com todos os adornos de uma soberania passada, poderia agora começar a “controlar” esses processos? Será que um parlamento ainda moldado pelo legado de Thatcher e Blair começará de alguma forma a comandar o capital internacional para colocar o povo à frente dos lucros? Quem pensa que vai fingir que o quer fazer, mesmo que pudesse?

O único ator que pode exercer o poder efetivamente necessário para controlar estes processos é, de fato, o próprio povo, e não os parlamentos ou governos que supostamente os representam. Mas para exercer esse poder, as pessoas precisam primeiro adquiri-lo, e isso requer educação, organização e mobilização em uma escala verdadeiramente revolucionária.

Na ausência de tal mobilização, as alegações de que estamos “retomando o controle” soam tão vazias quanto pessoas como Nigel Farage e Boris Johnson sempre quiseram que fossem: o bode expiatório dos imigrantes é uma coisa, mas a interferência popular na liberdade dos nossos governantes de explorar e saquear é outra.

Então, a campanha Leave promoveu essa mobilização popular? E a sua vitória irá ajudá-la ou impedi-la, no futuro? Esta é a terceira pergunta que precisa de uma resposta.

Talvez a esquerda radical esteja agora preparada para esta ocasião inesperada, como sugerem os Lexiters. Como qualquer tipo de vontade, a formação de uma vontade comum ou popular depende de nós, e a chance é nossa de tomar ou perder. No entanto, se não agirmos, o registro de uma votação por estreita maioria não substitui, certamente, a “vontade do povo” em qualquer sentido próprio desta frase.

Jean-Jacques Rousseau – o pensador mais perspicaz sobre a soberania popular – ajuda a esclarecer o que está em jogo aqui. Rousseau sublinhou que existe uma grande diferença entre uma vontade popular ou “geral” e uma mera “vontade de todos”. Esta última é um agregado de opiniões isoladas e, como qualquer pesquisa de opinião, normalmente reflete o equilíbrio existente de forças e medos que dominam uma sociedade.

Há uma grande diferença, em outras palavras, entre um projeto ativamente compartilhado por um lado (por exemplo, o tipo de determinação de massa que derrubou a monarquia na França revolucionária) e uma distribuição dispersa de preferências ou aversões individuais por outro.

O que generaliza a vontade, argumentou Rousseau, não é tanto o número de vozes ou votos como o interesse comum que os une. Esse interesse pode ser diluído ou concentrado por todos os tipos de fatores, mas só faz sentido evocar uma vontade popular ou geral, no singular, quando há uma poderosa determinação coletiva de afirmar um propósito comum positivo.

Além disso, tal propósito é uma questão de volição ou volonté – uma genuína vontade do povo -, continuou Rousseau, apenas quando é adotado por actores políticos livres e iguais, devidamente informados e que, capazes de penetrar nas mentiras e evasivas daqueles que possam tentar enganá-los, ganham assim a capacidade de tomar decisões voluntariamente e de as fazer aderir.

Só a sua capacidade de formular e depois impor tal propósito é que permite que o povo se torne um ator realmente soberano em primeiro lugar – e Rousseau foi o primeiro a admitir que esta é uma conquista rara e extremamente difícil.

A soberania popular, laboriosamente autoconstituída, persiste apenas como exercício de vontade política (e não como mera expressão da opinião pública), acrescentou, na medida em que continua a projetar-se num futuro livremente escolhido: o soberano nunca age porque quis [no passado], mas porque quer, num presente de sua própria autoria, e por definição um povo soberano não pode impor a si mesmo uma lei que não pode quebrar. O que deve ser feito nunca é simplesmente “feito”.

O referendo pode ter dado a todos a oportunidade de dizer “sim” ou “não” a uma pergunta enganadoramente simples. Mas em nenhum sentido contribuiu para a constituição de uma nova “vontade geral”, muito menos para a “virtude” cívica igualitária e inclusiva que Rousseau e seus admiradores de Jacobin entenderam ser a única força animadora de tal vontade.

Pelo contrário: confiando no engano, na nostalgia e no medo, os principais defensores da Leave fizeram tudo o que puderam para dividir as pessoas umas contra as outras, deixando-nos ainda mais fragmentados e sem poder do que antes.

Tal como as coisas estão, invocar a “vontade soberana do povo” continua a ser um apelo ao que ainda podemos decidir e fazer no futuro, e não ao que já nos foi feito no passado.

Colaborador

Peter Hallward ensina no Centro de Pesquisa em Filosofia Europeia Moderna na Universidade de Kingston e atualmente está trabalhando em um livro intitulado The Will of the People, juntamente com breves estudos de Rousseau, Marx e Blanqui.

O ponto de ruptura da social-democracia

Peter Frase

Precisamos de uma política que reconheça que o acordo de classes da social-democracia é insustentável.


Foto: Instituto Max Planck

TraduçãoPatrick Iber e Mike Konczal publicaram um ensaio na revista Dissent em que usam o fenômeno Bernie Sanders como uma oportunidade para explicar as teorias de Karl Polanyi e o que elas significam para o futuro da política progressista.

Polanyi foi um imigrante húngaro em Viena e mais tarde na Inglaterra e nos Estados Unidos, além de um veterano do período entre-guerras que nos deu a Grande Depressão e a ascensão do Fascismo.

Seu livro mais famoso, “A Grande Transformação”, foi escrito nos anos 30 e 40, e tentava diagnosticar as falhas do capitalismo de livre-mercado de seu tempo, que em sua visão haviam dado origem à reação e à guerra que ele teve de atravessar.

Seu ponto central, e aquele que tem sido mais influente sobre os progressistas contemporâneos, é sobre como nunca existiu algo como um mercado livre sem restrições ou um mercado “natural”.

Ao invés disso, todas as formações sociais realmente existentes envolvem laços complexos entre as pessoas, baseados em uma variedade de normas e tradições. Como Iber e Konczal colocam, “a Economia está ‘embutida’ na Sociedade – é parte das relações sociais – não é independente delas.”

Por essa razão, o esforço para estabelecer mercados desregulados e sem restrições está condenado: “uma sociedade de livre-mercado pura é um projeto utópico e impossível de se realizar, por que as pessoas resistirão ao processo de serem transformadas em mercadorias.”

Essa é uma sacada importante, e até aqui não há muito com que eu não possa concordar. O problema começa quando alguém tenta derivar uma estratégica política completa a partir dessa análise. É aí que meu caminho se separa da análise polanyiana que Iber e Konczal oferecem.

Eles sugerem que a visão de “Socialismo” oferecida por Polanyi, e também por Bernie Sanders, em última análise apenas envolve submeter o capitalismo a alguns limites democráticos e humanos. Eles citam a passagem em que Polanyi define socialismo como “a tendência inerente em uma civilização industrial de transcender o mercado auto-regulatório ao subordiná-lo conscientemente a uma sociedade democrática.”

Polanyi não parece pensar que os mercados ou que as relações de propriedade capitalistas poderiam ser suplantadas (apesar de alguns trechos no final de “A Grande Transformação” introduzirem alguma ambiguidade nesse ponto). O capitalismo apenas será humanizado e controlado. Iber e Konczal atribuem algo como essa ideia a Bernie Sanders: “as pessoas usam a democracia para mudar as regras que governam nossa economia política nacional.”

Há uma longa tradição, especialmente associada com o leninismo, que rejeita esse programa como mero “reformismo”. De acordo com essa visão, a perspectiva polanyiana seria inadequada porque abraça reformas que melhoram o capitalismo.

Isso é tomado como sendo uma distração da necessidade de se construir uma força revolucionária que possa tomar o poder estatal, derrubar a classe dominante e reconstruir as relações de propriedade. Essa é uma perspectiva que Iber e Konczal rapidamente recusam: uma “ideia tradicionalmente marxista de ter o Estado tomando os meios de produção” que, eles dizem, “foi abandonada mesmo pela maioria dos que se identificam como socialistas.”

Me considero um socialista e um marxista, apesar de ser questionável se sou “tradicional”. Minha objeção à análise polanyiana é um tanto diferente, porém, daquela que Iber e Konczal exemplificam.

Sou bastante “reformista” no sentido de que minha política diária envolve trabalhar por coisas como um sistema de saúde universal, por sindicatos mais fortes ou por um governo local menos corrupto. (Isto, deveria ser notado, também era verdade sobre muitos militantes comunistas históricos, mesmo se eles antecipavam a tomada do poder como seu horizonte). Onde meu caminho se separa da esquerda polanyiana – e de certa forma, também da Esquerda Marxista Tradicional – é sobre onde acredito que tais lutas vão dar, em última instância.

Algum tempo atrás, escrevi um pouco sobre como as ideias polanyianas influenciam apoiadores e defensores do Estado de Bem-Estar Social. Em resposta ao ataque do sociólogo Daniel Zamora à teoria de Michel Foucault, observei que para muitos críticos de esquerda ao capitalismo neoliberal, o projeto da esquerda é concebido em termos polanyianos, e portanto está limitado à luta para “amortecer para os trabalhadores os efeitos dos caprichos do mercado, embora deixando no lugar as instituições básicas da propriedade privada e do trabalho assalariado.”

Deste modo, não poderia haver nada além de “um Estado de Bem-Estar Social que proteja a classe trabalhadora do funcionamento de um mercado irrestrito.”

Há duas objeções distintas que eu gostaria de levantar contra esse projeto. Uma é basicamente normativa: um mundo de trabalho assalariado mais ou menos humanizado não é um mundo em que eu queira viver, mesmo se ele fosse melhor do que esse em que vivemos agora.

Isto está enraizado na tradição socialista do “anti-trabalho”, que insiste que o objetivo final das políticas socialistas não é tornar o trabalho assalariado mais agradável, mas abolí-lo por completo. Como já escrevi extensivamente sobre isso alhures, não repetirei aqueles argumentos aqui.

A segunda objeção tem a ver com a viabilidade no longo prazo do capitalismo polanyiano de Bem-Estar Social, como um equilíbrio dentro do capitalismo. A distinção fundamental que eu faria, entre marxismo e social-democracia polanyiana, não tem a ver com debates sobre “reforma” ou “revolução”.

Em outras palavras, eu aceito a proposição de que no curto prazo, o projeto socialista se desenrole através de lutas incrementais para conquistar ganhos materiais para os trabalhadores, dentro do contexto do capitalismo.

Mas o ponto final do socialismo de polanyi na verdade é o regime que o teórico do Estado de Bem-Estar Social Gøsta Esping-Andersen chamava de “capitalismo de Bem-Estar Social”.

Ou seja, ainda se trata de uma sociedade em que os meios de produção são controlados privadamente por uma pequena elite, e a maioria das pessoas precisam vender o seu trabalho para sobreviver. Ela difere do capitalismo irrestrito graças à presença de coisas como sindicatos, regulações, programas e redes de segurança social, que parcialmente – mas nunca totalmente – desmercadificam o trabalho.

É nesse ponto que descobrimos a divisão entre a perspectiva polanyiana e a alternativa marxista que estou propondo. Tudo gira em torno da questão sobre se esse regime seria viável.

O que é viabilidade? Uma definição concisa vem do sociólogo Erik Olin Wright – que parte de uma base marxista, mas cujo trabalho tem fortes sobretons polanyianos.

Ele tem trabalhou extensivamente na definição de “Utopias Reais”, que poderiam ser oferecidas como alternativas ao sistema atual. Ele argumentava que uma tal utopia precisa satisfazer três critérios: ‘desejabilidade’, ‘exequibilidade’ e ‘viabilidade’. Os dois primeiros são o que parecem ser: “É para lá que queremos ir?”, e “podemos chegar lá?”.

Como notado acima, penso que a visão polanyiana deixa um pouco a desejar em termos de desejabilidade, mas ainda seria um passo adiante.

Quanto à na questão de exequibilidade, não tenho nada a discutir: Eu apoio lutas reformistas pelo Estado de Bem-Estar Social por que o vejo como algo alcançável, comparadas às estratégias alternativas de se construir um Partido Comunista Insurrecional, ou de escrever polêmicas sectárias e esperar que o capitalismo colapse por si mesmo.

A viabilidade é onde todos os problemas surgem. Wright define a questão da viabilidade como segue: “Se pudéssemos criar esta alternativa, seríamos capazes de permanecer nela ou ela teria tamanhas consequências não-intencionais e dinâmicas auto-destrutivas que ela não seria sustentável?”

Lembrando a definição do socialismo polanyiano como a situação em que “as pessoas usam a democracia para mudar as regras que governam nossa política econômica nacional.”

Esse seria um equilíbrio estável, aceitável para tanto para os capitalistas quanto para os trabalhadores? Ou seria uma situação inerentemente instável, que deve se romper na direção da expropriação da classe capitalista, ou da restauração do poder de dominação de classe?

Diferente dos polanyianos, penso que o Estado de Bem-Estar Social, nos termos de Wright, não é viável. Diferente de Wright, no entanto, não acho que isso o invalida como um objetivo. Ao invés disso, acredito que a política socialista é inevitavelmente uma tarefa de “construir a crise.”

A grande tragédia do Socialismo no Pós-Guerra foi a divisão perversa do trabalho organizado a qual ele deu origem, entre revolucionários que se recusavam a se engajar em políticas reformistas, e reformistas que eram incapazes ou que não desejavam lidar com a crise que suas vitórias inevitavelmente produziram.

Então, o que faz com que a social-democracia não seja viável como um sistema estável? Para isso, precisamos nos voltar para o economista polonês Michal Kalecki e seu famoso ensaio de 1943, “Aspectos Políticos do Pleno-Emprego”.

A principal sacada daquele ensaio é que as lutas econômicas entre os trabalhadores e os patrões, em última análise, não são sobre o tamanho de salários, ou a estabilidade dos empregos, ou a generosidade dos benefícios. Elas são sobre poder.

É possível construir argumentos mostrando que colocar trabalhadores desempregados de volta no trabalho seria bom para os capitalistas também, no sentido de que levaria a um crescimento mais rápido e a maiores lucros.

Mas como Chris Maisano explica em seus comentários sobre Kalecki, “as maiores barreiras à manutenção do pleno-emprego são primariamente políticas em sua natureza, não econômicas.”

Isto por que em uma situação de baixo desemprego, os trabalhadores têm menos medo daquilo que Kalecki chamava de “poder da demissão” [17]. Como eles passam a ter menos medo dos chefes, começam a demandar mais e mais dos capitalistas.

Os sindicatos e os partidos social-democratas se fortalecem; greves autônomas proliferam, mesmo sem autorização de sindicatos. No final, esta dinâmica coloca em questão não apenas os lucros, mas as relações de propriedade fundamentais do capitalismo em si.

O capitalismo de Bem-Estar Social assim atinge aquilo que poderíamos chamar de o “ponto de Kalecki”, onde sua viabilidade terá sido fatalmente minada.

Nessa situação, os empregadores passam a pensar em tomar ações drásticas para colocar os trabalhadores de volta na linha, mesmo que às custas da lucratividade no curto-prazo.

Isso toma muitas formas, incluindo ataques liderados pelo Estado contra os sindicatos e a recusa dos capitalistas em investir, uma “greve do Capital” em que o dinheiro é levado para o exterior ou simplesmente deixado nos bancos, como uma forma de quebrar o poder da classe trabalhadora.

David Harvey, em seu “Neoliberalismo: História e Implicações”, essencialmente retrata a virada de Direita dos anos 80 como uma resolução reacionária desta crise: uma mudança à partir do ponto de Kalecki que trouxe a restauração do poder da classe capitalista ao invés de um salto na direção do socialismo.

Jonah Birch fornece um estudo de caso muito útil sobre o governo de Mitterrand na França durante este período, que pressionou os limites do acordo social-democrático e finalmente foi forçado a recuar pelo poder do Capital.

A falha do Plano Rehn-Meidner, que era essencialmente um esquema gradualista para socializar os meios de produção na Suécia, fornece um exemplo similar.

Até aqui, tenho argumentado que o acordo de classes social-democrático é inerentemente inviável, e que tende na direção de conflito e crises. No entanto, outra forma de olhar para isso é que o capitalismo de Bem-Estar Social pode ser tornado viável, mas apenas de uma maneira que subverta a sua promessa socialista.

Isso por que “o poder da demissão” pode ser reconfigurado em outros tipos de poder disciplinar, dependendo da natureza do regime capitalista de bem-estar social especifico de que estivermos falando.

Recentemente, descobri (através de Mariame Kaba), o trabalho de Elizabeth Hinton, focado na expansão do Estado de Bem-Estar Social durante a “Grande Sociedade” de Lyndon Johnson nos anos 60, e suas conexões com a construção do Estado Carcerário – o nascimento do encarceramento em massa e da militarização do policiamento nos EUA.

Ela mostra que embora a “Grande Sociedade” estivesse expandindo o acesso a coisas como o suporte de renda e a cobertura de saúde, uma simultânea “Guerra ao Crime” estava submetendo os pobres, e especialmente os negros pobres, a uma maior vigilância e repressão estatal.

A sua análise indica que isso não foi simplesmente uma justaposição, mas parte de uma reconstrução coesa da relação entre o Estado e a classe trabalhadora.

Isso é facilmente compreensível em termos da natureza contraditória do Estado de Bem-Estar Social e o problema do ponto de Kalecki. Sem o Estado de Bem-Estar Social, os trabalhadores são disciplinados pelo poder da demissão – ou, em situações onde os trabalhadores estão suficientemente organizados e coesos para resistir aos chefes de qualquer maneira, por milícias privadas.

Na era do Estado de Bem-Estar Social, no entanto, a desmercadificação parcial do trabalho cria um grande perigo para o Capital, por que aumenta a autonomia dos trabalhadores, estejam eles empregados ou não, para fazer mais exigências para o Capital e o Estado.

Foi apenas esse reconhecimento que levou líderes de organizações como Frances Fox Piven e Richard Cloward a mobilizar beneficiários de políticas de Bem-Estar Social no final dos anos 60.

Violência policial, guerras às drogas, encarceramento em massa, exigências pesadas sobre beneficiários de programas: estas são todas formas de disciplinar o trabalhador na era do Estado de Bem-Estar Social, na ausência do poder de demissão.

Isso também significa que as lutas contra a opressão policial e o encarceramento não são paralelas ou subordinadas à luta de classes e ao movimento pelo socialismo, mas são fundamentais para isso: elas atacam o regime disciplinar que mantém a estabilidade do nosso regime específico de acumulação de Capital.

Para os mais polanyianos e Polianas, seria possível para todos nós nos darmos bem em um mundo onde os trabalhadores possuem vidas confortáveis e os chefes ainda ganham dinheiro. Essa é a visão que parece animar as explicações de Iber e Konczal.

O argumento marxista alternativo é que o Capitalismo é definido pela luta pelo poder entre os trabalhadores e o Capital, e a versão polanyiana de socialismo tenta suprimir essa contradição em favor de uma visão de co-existência harmoniosa.

Onde essa visão falha não é no curto-prazo, mas no longo. Ela deixa a esquerda mal equipada para lidar com a crise inevitável que um programa reformista de sucesso gera, e eu argumentaria que a crença na possibilidade de uma conciliação de classes permanente contribuiu para a derrota da esquerda e a vitória do neoliberalismo.

Então o problema não é que nós não podemos conquistar vitórias reformistas para os trabalhadores – a História nos mostra que podemos. O problema é o que vem depois da vitória, e nós precisamos de uma teoria do socialismo e da social-democracia que prepare nosso movimento para essa fase.

Sobre o autor

Peter Frase está no conselho editorial de Jacobin e é autor do livro "Four Futures: Life After Capitalism".

20 de junho de 2016

Por que os trabalhadores brancos deixaram o partido Democrata?

Um historiador desmascara mitos liberais sobre o racismo, o New Deal e por que os democratas moveram-se para a direita.

Uma entrevista com
Judith Stein

Jacobin

Uma multidão inter-racial de trabalhadores em greve da Phillips Packing Company em Cambridge, MD, em 1937. Biblioteca do Congresso

Entrevista por
Connor Kilpatrick

Bernie Sanders faz os liberais dizerem as coisas mais terríveis.

O senador de Vermont passou a maior parte de 2016 apresentando o seu “socialismo” como uma continuação do que há de melhor na tradição reformista americana. E isso significava abraçar nominalmente as conquistas internas de Franklin Roosevelt e Lyndon Johnson.

De repente, porém, alguns especialistas liberais não tinham tanta certeza sobre esses legados. O teimoso velho socialista estava olhando para o passado através de lentes cor de rosa, disseram. E ouvi-lo defender as reformas econômicas populistas dos bons e velhos tempos foi suficiente para os fazer repensar os fundamentos da realização legislativa mais impressionante do Partido Democrata: o New Deal.

Porque é que os liberais da elite se tornariam tão ambivalentes em relação às reformas que, com uma breve interrupção, ajudaram a entregar ao seu partido favorito o controle do Congresso durante sessenta anos? O mesmo conjunto de políticas que há muito elogiam como o tipo de reformas “responsáveis” e “pragmáticas” com as quais os radicais poderiam aprender?

A resposta: racismo. Só a supremacia branca, argumentaram estes liberais castigados, organizando o trabalho de alguns historiadores recentes, tornou possível tanto o New Deal como a era de ouro do trabalho organizado.

Tal como a social-democracia escandinava foi supostamente construída sobre uma base de homogeneidade étnica, também o New Deal prosperou devido à exclusão racial. E quando os negros americanos começaram a exigir os seus direitos, o New Deal - e o trabalho organizado - implodiu quando os trabalhadores brancos racistas fugiram do Partido Democrata por Ronald Reagan.

Nas suas linhas gerais, esta história baseia-se em uma poderosa crítica de esquerda ao New Deal - uma exposição implacável das contradições da social-democracia que os radicais, desde Leon Trotsky a Martin Luther King, teriam compreendido.

Nas mãos da intelectualidade liberal de hoje, porém, funciona de forma um pouco diferente. Para eles, o arco da política do século XX mostra que o afastamento do Partido Democrata do populismo econômico não é culpa da sua elite rica, mas do racismo ainda invencível dos trabalhadores brancos reacionários.

Na entrevista a seguir com Connor Kilpatrick, membro do conselho editorial da Jacobin, Judith Stein explica por que ela discorda. Embora outros historiadores tenham dividido claramente “raça” e “política econômica”, Stein concentrou-se na ligação entre as duas ao longo da sua carreira acadêmica. O seu primeiro livro examinou o líder pan-africano Marcus Garvey, como um exemplo do nacionalismo negro que permeou a vida política afro-americana de 1890 até à Grande Depressão.

Ela então mudou para a era do New Deal, quando o trabalhador assalariado se tornou um ator central na política negra. Stein decidiu se concentrar na indústria siderúrgica - o único lugar (além do carvão) onde os afro-americanos trabalhavam tanto no Sul como no Norte.

Esta linha de investigação - cujo resultado foi Running Steel, Running America: Race, Economic Policy, and the Decline of Liberalism - levou-a para Sul, para Birmingham.

Essa análise da raça e do declínio da indústria siderúrgica do pós-guerra levou ao seu próximo livro, The Pivotal Decade: How the United States Traded Factories for Finance in the Seventies, um estudo das decisões que afastaram o Partido Democrata do liberalismo do New Deal.

Ao contrário dos liberais de hoje, Stein argumenta que não foi o racismo dos trabalhadores brancos que forçou o Partido Democrata à direita na economia. Foram poderosas elites políticas e empresariais que optaram por abandonar o trabalho organizado e transformar o Partido de Roosevelt no Partido de Clinton.

I. O nascimento das Jim Crow

Connor Kilpatrick

Antes de falarmos sobre a morte da política do New Deal e o papel do racismo na destruição destes movimentos de reforma política, primeiro precisamos de falar sobre como as Jim Crow e a privação de direitos foram estabelecidos.

JUDITH STEIN

Em primeiro lugar, as Jim Crow são diferentes da privação de direitos. A cassação significou aumentar as barreiras ao voto. Eles fizeram isso de várias maneiras, como o poll tax, testes de alfabetização e controle de registro pelo Partido Democrata.

Os estudos mais recentes sobre a privação de direitos situam as suas origens na exigência de controle do trabalho por parte dos proprietários, que foi contestada durante a depressão da década de 1890. J. Morgan Kousser provou isso examinando as origens dessas leis em cada legislatura estadual.

O primeiro estado foi o Mississippi em 1890. Essa é uma das razões pelas quais as pessoas argumentam que nunca houve um movimento populista no Mississippi. O último estado foi a Geórgia em 1908.

Kousser argumentou que as leis geralmente seguiam uma derrota do Movimento Populista, para que pudessem ser aprovadas. Depois de uma derrota, quando a oposição estava mais fraca - foi aí que as elites introduziram a legislação.

E Kousser mostrou que as pessoas que introduziram a legislação eram proprietários de plantations, e não trabalhadores. Eles vieram de áreas dominadas pela elite, e não das regiões brancas pobres do Sul.

Quer os brancos pobres fossem racistas ou não, faltava-lhes o poder de efetuar a privação de direitos (o que também os afetava). E as áreas brancas pobres eram muitas vezes as únicas áreas de oposição às novas leis.

CONNOR KILPATRICK

Quais eram os desafios ao governo dos proprietários que estas elites tentavam pôr fim?

JUDITH STEIN

It was the Populist Party, it was black Republicans. North Carolina, from 1894 to 1898, was ruled by a biracial coalition of Populists and Republicans. It was a coalition, because blacks preferred to remain Republican. Blacks and whites challenged planter rule.

The North Carolina coalition achieved a lot for blacks, as well as for whites. It was defeated in 1898 by the white supremacist Democrats, who used violence to win the election.

And in other states, even without achieving power, blacks and whites, separately or together, challenged planter rule.

CONNOR KILPATRICK

Pelo que exatamente eles estavam brigando?

JUDITH STEIN

Many whites left the Democratic Party for the Populist Party because Democrats were supporting high interest rates, and they were small farmers, who needed cheaper credit.

“We want government to regulate the railroads. We want the government to provide credit.” These were key issues for the Populists.

There was the famous Tom Watson [a Georgia Populist who later became a racist demagogue]. Watson famously brought his cohorts to defend a black farmer who was about to be attacked.

I’m not saying this happened every day, I don’t want to make Populists angels. All I mean to say is that there was a great fear among the Democratic elites that this popular uprising during the 1890s depression would displace them and rule the South.

They acted in every way possible. Violently when necessary, but in the long run they knew that they would have to permanently alter politics through the various disfranchisement measures.

CONNOR KILPATRICK

Então não foram as tensões internas sobre raça que destruíram a aliança populista?

JUDITH STEIN

Não! As pessoas não compreendem que no Sul, na década de 1890, as elites brancas defendiam abertamente a violência.

Respondendo a outra aliança populista-republicana na Louisiana, o Evening Judge, um jornal em Shreveport, declarou que

é dever religioso dos Democratas roubar os votos dos Populistas e dos Republicanos sempre e onde quer que a oportunidade se apresente... Os Populistas e os Republicanos são as nossas legítimas presas políticas. Roube-os! Pode apostar! Para que estamos aqui?

Estas técnicas e violência levaram a uma vitória democrata. O novo governador ficou feliz por ter mantido o “controle dos assuntos” nas mãos daquilo que descreveu como “a inteligência e a virtude do Estado” sobre “a força dos números brutos”.

CONNOR KILPATRICK

Eles realmente mataram alguém?

JUDITH STEIN

Yes! They killed lots of people. Whites and blacks. In 1896, at the height of the political insurgency in Louisiana, twenty-one people were lynched, one-fifth of the total for the entire nation.

CONNOR KILPATRICK

Quem eram exatamente as elites do Partido Democrata que neste momento reprimiram os populistas?

JUDITH STEIN

They represented the planter class and the new industrial class. There’s a debate about how bourgeois the South was at the time. But most of the leaders were from the planter class, because they had the most to lose if blacks voted.

After all, if all your workers in the Black Belt counties are voting, that’s black-majority power, Reconstruction. They did not want that. That’s why they were the most antagonistic to free black voting.

And if you bring the story up to the 1950s — where was the white Citizens Council formed? It was formed in the Delta of Mississippi, where it was still five-to-one, black to white, where if you have a semblance of democracy, you would have black rule.

CONNOR KILPATRICK

O que significaria regra do trabalhador.

JUDITH STEIN

Of course. It’s not that they disliked the color black. Slaves had been brought from Africa to work. This was labor control, basically.

CONNOR KILPATRICK

E quanto ao Jim Crow especificamente?

JUDITH STEIN

Jim Crow also originated as an elite phenomenon. Remember, Plessy v. Ferguson, the Supreme Court’s legalization of segregation in 1896, was about first-class railroad service.

Why did Jim Crow grow and flourish? First, it required black disfranchisement. Most of the Jim Crow laws came after disfranchisement, because you could never get Jim Crow if blacks were voting.

Second, most scholars believe that Southern industrialization undermined the agrarian-based system of social control and race relations. Industrialization also exacerbated sectoral competition for labor between agriculture and industry.

These social and economic stresses played out against popular challenges to elite rule in the 1890s. Segregation was the answer because it eased class and racial tensions in urban areas, it mediated competition between industry and agriculture, and it resolved political struggles by persuading whites to close ranks around white supremacy.

So, basically the origin of Jim Crow is not so much planter control, but urbanization. In the planter areas, the old form of labor control could work. You can control people using the old methods of landlord-tenant, landlord-worker.

In the city, as Frederick Douglass said of the urban slave, “He’s a free man, a slave is a free man.” Obviously he was exaggerating, but he was distinguishing between the tyranny of living on a plantation and the relative freedom that you have in the city.

In the cities, where you have freer blacks, segregation was considered a way of organizing society to minimize conflict. And of course, to make it impossible for blacks and whites ever to unite.

Blacks and whites couldn’t play checkers in the park — there was such a law in Birmingham. In order to unite in solidarity, you have to at least know each other. Segregation made that much more difficult.

CONNOR KILPATRICK

So Jim Crow, like disfranchisement, is also a response to the Populist Movement?

JUDITH STEIN

Sure it is. The elites saw this as a way of creating order in the city. Obviously you have to have a racist society to separate black and white, but it was not atavistic. It was a modern way of organizing people on the basis of racial separation. Some of this happened in the North, too. In some of the steel mills in Aliquippa, Pennsylvania, they had Eastern Europeans in one section, Italians in another, blacks in another. And this was all modern.

II. O norte durante o Jim Crow

CONNOR KILPATRICK

Vamos usar isso para falar sobre o que está acontecendo no Norte naquela época. A classe dominante do Norte - o que está fazendo neste momento? Eles estão tentando tirar o voto das mãos de seus trabalhadores?

JUDITH STEIN

To some extent they were. Throughout the nation, in the face of strikes and third parties during the two depression decades — the 1870s and 1890s — there was a general questioning of democracy.

But Northern elites couldn’t radically reduce the electorate because the machine bosses were too strong, and they protected workers and immigrants because they were the source of their power.

But they were able to tighten up residency requirements, which we still have, and institute other measures that made voting more difficult. Voter suppression was less radical in the North because workers and immigrants had more power than their Southern counterparts. But some of the Northern restrictions are still with us. Look at what just happened in the presidential primary in New York City. To vote in the April party primaries, one would have had to register in October 2015.

CONNOR KILPATRICK

So it seems to me the narrative is that the ruling class always wants control of the vote, as much as they can get, over the working class, North or South — and that they’ll exploit whatever social forms exist in a given area to do so.

JUDITH STEIN

Right, but that doesn’t explain why disfranchisement was less radical in the North than in the South. The Northern and Southern orders were different.

The planters, especially in the depression of 1890s, had less room to maneuver and thus came down hard against challenges to their rule.

All of this is important because in the South, almost all of the black population, and half of the white population, at the class line, didn’t vote.

So what you get is elite voting where factions contested each other and the people were ignored. That’s what elite rule was, and it worked for a while.

III. Dixiecratas e o New Deal

CONNOR KILPATRICK

This is skipping a lot of history but let’s get to the New Deal’s relationship with the South, and with black workers.

The popular thesis today is that the New Deal could only be popular with white workers because, thanks to the Dixiecrats, it excluded black workers.


JUDITH STEIN

If the New Deal was simply for whites, why did blacks switch from the GOP to the Democratic Party in 1934 and 1936, led by the working-class black districts? Were they stupid? Or did they see something in the New Deal that these people don’t?

One could argue that New Dealers compromised too much with the South, but that is not to say that men like Senator Robert Wagner from New York wrote laws for a lily-white majority. Moreover, the argument that these laws were simply racist because they excluded agricultural workers is wrong.

First, most social welfare laws everywhere initially excluded farm workers. Today, farm workers in New York have fewer rights than industrial workers. Then, the majority of sharecroppers in the South of the 1930s were white, not black. Did Southern legislators advocate minimum wages and pensions for white sharecroppers?

The South feared that the New Deal endangered their control over labor — black and white. After all, federal relief and jobs challenged their control over labor by allowing workers to avoid the plantation.

What the Southerners loved in the first New Deal was help for agriculture and cheap money. Although FDR did not challenge the Southern racial order, many white Southerners saw the New Deal and the CIO as such a threat.

When the coal miners organized in and around Birmingham and the union began to register black voters, elites conjured up images of Reconstruction.

CONNOR KILPATRICK

Blacks' sudden shift into the Democratic Party came after decades of loyalty to the Republicans. What was going on in black politics then to make that possible?

JUDITH STEIN

Well, in 1933 there was a big fight within the NAACP when the “Young Turks” wanted the NAACP to convert itself into a group to organize black workers.

Not only did W. E. B. Du Bois not like that, but Walter White, the head of the NAACP, didn’t like it either.

Most of the black radicals — I’m not talking about communists, but people like Abram Harris, an economist, E. Franklin Frazier, A. Philip Randolph, of course — thought that the old civil rights groups were not dealing with bread and butter issues, and that’s what people were interested in.

CONNOR KILPATRICK

So the issue, for this younger set, was the importance of class?

JUDITH STEIN

Exactly. This was the fight they had with Du Bois.

Du Bois left the NAACP for many reasons. There was the fight with Walter White over DuBois’s nationalism.

But there also was an important rift between DuBois and some of his young admirers, such as George Streator.

Streator had gone to Fisk University, he loved Du Bois, and had started to work for [the NAACP magazine] the Crisis. Then he leaves to become an organizer for the Amalgamated Clothing Workers in Virginia.

He has a fight with Du Bois on just this issue. Du Bois argued that white workers are always racist. And Streator challenged his knowledge of white workers and challenged Du Bois’s notion that the black bourgeoisie was progressive by citing many instances of black middle-class opposition to unionization.

He told DuBois, “I am through with any doctrine of ‘racial solidarity’ as a way out.” DuBois’s hope in the 1930s was that cooperatives, led by the black middle class, could lead blacks out of the Depression.

This was not the kind of pious debate you hear today. Why? Because both of them thought the stakes were high. Your position on how blacks should organize was not a posture, it mattered to black people.

Even the Urban League moves left and gets interested in unionization — and the Urban League had been under complete corporate control in the 1920s.

In 1935, you also get the National Negro Congress, which wanted to be a left-wing equivalent to the NAACP. Its members thought the NAACP was an organization of preachers and teachers, whereas they represented the masses. There was some truth to their conclusion.

They said, in essence, blacks are workers. Our interests are with white workers, not with white capitalists, which had been the dominant trend in racial organization in the twenties, and since Booker T. Washington began to dominate black politics at the end of the 1890s.

CONNOR KILPATRICK

This all sounds familiar. Right now, black millennials generally support Bernie Sanders, while the older guard is saying, let’s stick with these enlightened capitalist-funded organizations.

JUDITH STEIN

But the leftward movement was more powerful in the era of the Depression. Capitalists stopped contributing to the Urban League.

In the 1920s, the league used to agitate for more black jobs in corporations. But now, with the Depression, corporations were firing people.

It’s not that a light bulb suddenly went off in their heads, it was that the facts on the ground made it clear that their old ways had to change.

The insurgent movement was activist, it was potentially changing things, and it appealed to blacks who were interested in material issues.

Ralph Bunche was another one who at this point effectively said, “You know, every time we ask for a meeting on civil rights, no one comes. When we talk about material issues, everybody comes.”

People didn’t have jobs. A black man who was hired at the US Steel mill in Birmingham in 1937 was asked what he thought about discrimination at the mill. He responded that the only thing he was thinking about was that “I was making 37 cents an hour when I was making 75 cents a day on the farm.”

CONNOR KILPATRICK

But what about racism in the labor movement? Blacks had been excluded from unions, hadn’t they?

JUDITH STEIN

First of all, the CIO was new. It was new because it included Eastern European immigrants and blacks, who had more or less been excluded from the old AFL.

But the notion that blacks were excluded from the CIO is ideology, not reality. Employers in the North and the South often told whites and immigrants (they were not the same then) to avoid the CIO because it was a “black” union.

And the pattern of unionization disproves the race-first mode of organizing. In Birmingham, first the coal miners, then the steelworkers, and finally the iron ore workers formed integrated unions — probably the only integrated organizations in the state of Alabama at the time.

I am certain that very few of the whites who joined with blacks were egalitarians, although measured by the Alabama standards of the time they probably were.

And in western Pennsylvania, it was only after the success of the steelworkers union in the late 1930s that white workers joined blacks in getting black teachers hired in the public schools and integrating swimming pools, theaters, and restaurants.

Egalitarian racial sentiment is often the consequence, not the cause, of unionization.

Let me give you an example: the Packinghouse Workers was another union organized in the thirties. The packinghouse workers had terrible race relations in Chicago because in a strike in the wake of World War I, the companies imported blacks as strikebreakers.

They broke the strike. So in the 1930s, the animosity between black and white was great.

What happened, and what made the union appealing to whites, was they knew that there were lots of blacks and if they didn’t have them, they weren’t going to have a union.

And for blacks, even though they had once been the company favorites, they recognized that they were also the first ones fired. The companies had “black lists” — literally.

As I said, often, good racial feelings are a consequence, not the cause, of unionization. Jim Cole, a black man who worked in the Chicago yards, was interviewed in 1938 by someone from the Federal Writers Project. He said:

I don't care if the union don't do another lick of work raisin' our pay, or settling grievances about anything, I’ll always believe they done the greatest thing in the world gettin' everybody who works in the yards together, and [breakin'?] up the hate and bad feelings that used to be held against the Negro. We all doing our work now, nothing but good to say about the CIO.

CONNOR KILPATRICK

This flies in the face of the narrative we hear from many labor skeptics today — that people must first purge themselves of racism before a successful revitalization of the labor movement is possible.

JUDITH STEIN

The notion that you need perfect people before people will join unions flies in the face of the evidence.

It’s said by people who don’t really need a union. In other words, they don’t understand that people join unions for practical reasons.

I have used the phrase “the racialization of explanation” to explain this phenomenon. Especially in the era of Jim Crow, people often conclude that every time a union failed, it must be because of race.

That doesn’t make sense. Workers can be racist, but that is not necessarily the reason why a union fails. It’s only if you only see race and ignore everything else.

Labor historians have shown that context, geography, religion, gender, skill, ethnicity, and — yes — race all make solidarity contingent, not something that inexorably flows from economic conditions or the social relations of production.

The current “wages of whiteness” school reifies whiteness and makes it all-powerful, to counter a straw-man conception of Marxism that nobody even accepts anymore.

CONNOR KILPATRICK

But wasn’t it W. E. B. Du Bois who said that white workers received a “psychological wage” from their racial status, which kept them from joining interracial alliances?

JUDITH STEIN

Du Bois’s phrase appeared in his Black Reconstruction, which was first published in 1935. Du Bois advanced the notion of a “public and psychological wage” for whites, to answer the old Werner Sombart question (“Why is there no socialism in America?”).

Why did white workers refuse to make common cause with black workers to make the revolution? Du Bois claimed that the agents of the divide-and-conquer strategy were those in power.

But in another piece, written in 1933, Du Bois was closer to Sombart’s claim that socialism “foundered on shoals of roast beef” — in other words, Americans were too prosperous for socialism. Here the “wages of whiteness” was simply conventional wages.

Since the question of agency is critical, which is it? And is Du Bois right? Immediately after those lines in Black Reconstruction, Du Bois characterized the “Negro” as “a caged human being, driven into a curious mental provincialism,” dominated by an “inferiority complex,” “one who did not believe himself a man like other men,” who “could not teach his children self-respect, and who sank into apathy and fatalism.”

Such a characterization justified Du Bois’s belief that only the “talented tenth” could produce black freedom.

But was his description of blacks correct? Much subsequent history disproves Du Bois’s findings.

If he was wrong on blacks, why was he right on whites? In short, Du Bois had great insights into blacks and whites, but he was not always right.

Given my problems accepting his formulation as a tool for understanding the post–Civil War South or the 1930s, it is even less likely to be useful in understanding contemporary history, whose dynamics Du Bois never experienced, much less studied.

4. Trabalho e Movimento dos Direitos Civis

CONNOR KILPATRICK

What was the labor movement’s relationship with the Civil Rights Movement?

JUDITH STEIN

First of all, both the labor movement and the Civil Rights Movement were diverse. But I can make some generalizations. Let’s start with the AFL-CIO and its leader, George Meany.

Unlike Walter Reuther of the United Auto Workers, Meany did not support the March on Washington in 1963. Nevertheless, he was the muscle behind the passage of the Civil Rights Act of 1964, including the very important Title 7, banning employment discrimination.

The Civil Rights Movement, and blacks in general, did not have much weight in Congress, so labor played a crucial role in getting legislation passed. And where labor was weak, the churches stepped in.

One of the reasons that Meany was so insistent on Title 7 was that the law had evolved so that unions, but not employers, were liable for employment discrimination. Making employment discrimination illegal would place the blame on employers, whom labor leaders believed were the cause of discrimination.

In addition, it wasn’t just Reuther who gave money to Martin Luther King Jr. In 1963, the United Steelworkers in Birmingham gave $40,000 so that jailed demonstrators could be released. Claude Ramsay, head of the Mississippi AFL-CIO, worked very closely with Medgar Evers, the main civil rights leader in the state.

Having said that, it is also true that the hurricane of racism that enveloped the South in the late 1950s and early 1960s included many unionized white workers. This period halted some of the postwar progress that had been made and replaced the populists, who stressed economic issues, with the racists in state and local government.

Nonetheless, most union leaders in the South tried the best they could to promote black rights because they saw black voting as crucial to union success, as well as to their own liberalism.

There is no doubt that there were conflicts, generally over methods and the speed of black advancement. The conflicts escalated when the number of jobs was falling.

And some unions were better than others. The craft unions were less willing to change than the CIO industrial unions, which especially in the North had eliminated many of the discriminations of the pre-union era.

Even so, the unionized construction companies [strongholds of craft unionism] had better records on training blacks for skilled work than the nonunionized companies.

CONNOR KILPATRICK

Bayard Rustin said at some point in the early seventies that the labor movement was the most empowering institution for black people in America.

JUDITH STEIN

Yes. I still think it’s true. In Birmingham in the thirties, the steelworkers, with the coal miners and the iron workers, were the only integrated institution in the whole city.

This is Jim Crow Birmingham. The unions were not perfect, but blacks had a vote in the election of their leaders and therefore they had a voice, and many of them were quite skillful in using it for their own advantage. Where else in Birmingham did they have that kind of power?

If you don’t understand the empowerment that being a member of a union brings, having a say in your work life, how important that is to a person who has no rights outside of the union, you don’t know what the Jim Crow South was. That is why these first black unionists were so enthusiastic about unions.

I interviewed a retired black worker, Willie George Phillips, from the wire mill in Birmingham, which was really black-run. “In the late forties,” he said, “we decided to elect a black as the chairman of the grievance committee,” which was really the main committee of the union.

I said, “So you thought it was about time that you elected a black to be chair?” He said no. “Every time we got a good white, they would promote him to be foreman. We knew they’d never promote a black.”

Here I had assumed that it was the times, that blacks were on the move, seeking higher position. No, there was a very practical reason, and it acknowledged the ongoing racism of the mill, their imperfect world. That will explain why black workers joined with people that we would say probably are a little racist.

And there were non-racial reasons to have a union. I once asked Jimmie Lee Williams, a black leader from the coke plant, what was his most important accomplishment. I thought he would say facilitating the promotion of blacks or registering blacks to vote, which he had done.

He said, “The best thing I ever did in the coke plant was getting air conditioning for the workers.” People who don’t work in a coke plant during a Birmingham summer need to expand their imagination if they want to understand this history.

There were two institutions where working-class people — I don’t care what the race was — could get leadership skills. One was the church, and the other was the union.

When I asked another retired black worker what he liked best about the union, he said, “I was on the pension committee.” Surprised, I said, “Why?” He said, “I got a chance to travel outside of Birmingham to other cities, and I had never traveled.”

CONNOR KILPATRICK

I think a lot of liberals just see it as, like, “Well, okay, being in a labor union — what does that really mean? Is it really that big of a deal?”

JUDITH STEIN

It means everything.

CONNOR KILPATRICK

It creates democracy.

JUDITH STEIN

Exactly. It establishes a rule of law. It protects you from arbitrary firing and makes whites subject to the contract, the law. If you cannot understand what this means, you lack an understanding of what the Jim Crow South was like.

V. A década de 1970 e a ascensão de Reagan

CONNOR KILPATRICK

What happens to the New Deal order in the 1970s?

JUDITH STEIN

Democratic losses among white workers began in the election of 1980. After the aberrant 1972 presidential election, the 1976 contest saw a return to class voting, North and South. There was much racial debate and divisiveness at the national and local levels in 1976, but it did not affect the voting. Whatever their racial views in 1976, most white workers did not abandon the Democratic Party.

Many whites, especially more affluent ones, left the Democratic Party in the South. But those who remained had characteristics similar to Democratic whites in the rest of the nation — older, Catholic, union member, blue-collar, working-class, less education, and less affluent — according to political scientists Richard Nadeau and Harold W. Stanley, who studied white Southern voting from 1952 to 1990.

During the 1970s white Southern Democrats learned to represent biracial constituencies. The addition of black voters and the departure of more affluent whites made white Democratic politicians more liberal than their predecessors on economic matters. The addition of new black Democrats added to the liberalism. Then in every region in 1980, Democrats lost votes because of the economy, the terrible economic conditions.

CONNOR KILPATRICK

What are some of those conditions?

JUDITH STEIN

You have unemployment, you have inflation. If you look at the white working-class vote in 1980, first of all, there was less of it.

Then, every group, except blacks, gave a greater proportion of their vote to Reagan in 1980 than they gave to Ford in 1976. Suburban women, North, South — you name it. Catholic. Every group.

The big issue in 1980 was the economy. So you go back to race? That just doesn’t make sense to me. Still, the class dimension of the vote in 1980 remained. Carter was weakest and Reagan the strongest in the white suburbs and other affluent communities.

The South had been in play during the 1970s. But the Democrats did not offer white workers (or black workers) social democracy.

National Democratic leaders did not nurture a biracial, class politics. Democrats promoted black mobilization (and eventually black districts, to ensure racial representation), but not biracial unions, the surest way to anchor white Democratic voting.

Whites belonging to unions voted Democratic more than nonunion whites. But President Carter only perfunctorily supported the labor reform in 1978, which would have advanced the unionization of Southern workers, black and white.

The law was filibustered to death. Beginning in the late 1970s, when the Democratic Party embraced neoliberalism, it lost the capacity to convince workers that it could fix the economy.

Yes, some working-class whites in the South turned to the Republican Party, especially when it was the party of power in their city and county. But many more just stopped voting.

CONNOR KILPATRICK

Did the white working class shrink as a percentage of the general population?

JUDITH STEIN

No! They stopped voting.

CONNOR KILPATRICK

In some ways, I guess that’s not surprising. Carter was basically telling the working class to do more with less.

JUDITH STEIN

Absolutely. Today it’s hard to recreate that, because Jimmy Carter devotes himself to ending conflicts throughout the world. But there was huge criticism of him.

Senator Edward Kennedy challenged him in the primaries, and the polls showed in 1980 that people voted for Reagan not because they were more conservative, but because they thought that Jimmy Carter was unable to manage the economy.

The Reagan people liked to argue that this was a conservative ideological victory, but the polling shows that they lost faith in Carter’s ability to fix the economy. It was like the 1932 election, when people voted for Roosevelt because Hoover had had three years to improve the economy, but failed.

Polling in 1984 shows that 60 percent of the electorate preferred Mondale’s ideas about helping the needy; 25 percent preferred Reagan’s. But they believed that the Democrats couldn’t manage the economy, and Reagan could. Up until that point, Democrats successfully claimed, “We are the party of prosperity. Republicans are the party of the Great Depression.” After 1984, that was not the case anymore.

VI. A virada à direita do Sul

CONNOR KILPATRICK

Até que ponto a virada à direita na política do Sul se deve ao fato de os sindicatos nunca terem tido tanta presença ali?

JUDITH STEIN

Sure, because after all, workers will imbibe the culture around them. That’s why in the South, there is a distinction between the voting patterns of white unionized and white non-unionized workers.

Typically, an oil-industry lobbyist opposed labor reform in 1978 because he feared that the law would unionize the South and “the South would go the way of Ohio . . . due to the political strength of labor.”

Ohio had once been a reliably Republican state but had become reliably Democratic because of unionization. The lobbyist feared the same thing would happen to the South.

CONNOR KILPATRICK

Como a desindustrialização afetou o Sul em comparação com o Norte?

JUDITH STEIN

The South begins the period of deindustrialization with a weaker union base. Insofar as unions slowed job loss, Southern workers were more vulnerable.

But the composition of Southern industry — furniture, textile, garment, and other labor-intensive industries — exposed the region to cheap imports in the eighties, and then NAFTA in the 1990s, and China in the first decade of this century.

CONNOR KILPATRICK

Quanto da ascensão da direita no Sul você acha que tem a ver com o fato de o Sul ter se tornado mais rico após a Segunda Guerra Mundial?

JUDITH STEIN

The first Republicans in the postwar South came from the affluent areas; President Eisenhower carried Texas, Virginia, Florida, and other outer Southern states. Southern Republicans were mainly upper-middle-class people. This was a class, not race phenomenon.

Southern industrialization was dual. On the one hand, you have traditional manufacturing firms, textile, garment, furniture, metals. But then you get the new high-tech, often defense-related industry, in the suburbs around universities, which demanded a highly educated population. Many were Yankees who come to the South.

More recently, the new foreign auto transplants that populate the South have not changed the political situation much. First, they are nonunion, and workers understand the tenuous nature of their employment. Mercedes opened up a plant in Alabama in 1997, and a guy I know in Alabama said to me, “It’s harder to get a job in that Mercedes plant than to get into Harvard. And, if you ever were in a union, you will never get a job there.”

CONNOR KILPATRICK

Por que?

JUDITH STEIN

They don’t want union people. If you show in your employment history that you worked in a plant that was unionized, you probably will not get the job. Many of the auto plants locate in white areas because they think blacks are more pro-union than whites.

CONNOR KILPATRICK

Portanto, vamos reconectar a situação dos negros americanos e da economia: como foram os trabalhadores negros especificamente prejudicados pela desindustrialização e, mais tarde, pelo NAFTA?

JUDITH STEIN

Some people say, “Well blacks were never in manufacturing — it is only government and service jobs that had meaning for blacks. Thus, deindustrialization is a white phenomenon.”

That is false. There are plenty of blacks that worked in manufacturing in the South forever and in the North since World War I.

Indeed, A. Philip Randolph, in the midst of the Montgomery Bus Boycott when the question was how to transport boycotting blacks to their jobs, said, “Well the black steelworkers of Birmingham are so rich that they have two cars — they can help.”

After the adoption of the mechanical cotton picker and the rapid decline of agricultural jobs in the 1950s and 1960s, manufacturing jobs were the perfect outlet for black people off the farms.

And many did begin to work in textiles in the South, thanks to black workers’ struggle to take advantage of the new antidiscrimination laws.

But just as blacks were getting these jobs, the number of textile jobs began to decline because of Japanese and East Asian imports. The same thing was true in industries like steel.

CONNOR KILPATRICK

Então a desindustrialização e a virada econômica para a direita por parte do Partido Democrata não eram inevitáveis?

JUDITH STEIN

We make less stuff than we used to, but that is not simply the result of globalization. Other countries make just as much stuff as they did in the past.

You’re not going to bring t-shirts back. You’re not going to bring shoes back. But we have trade deficits in high-tech manufacturing.

Since NAFTA went into effect, five million manufacturing jobs have been lost. Most of the trade treaties of the last thirty years were not about tariffs but about protecting US investment abroad.

This creates an incentive to offshore work. The US government has completely ignored currency manipulation, a big factor in the American trade deficit.

It is never a question of trade, but the rules of trade. What is permissible, and what is not, is a matter of government policy. And for all the talk about jobs by both parties, when it comes to trade deals, it is the corporations that have the most influence.

Political elites were willing to sacrifice jobs (although they would not put it that way) to national security during the era of the Cold War.

They also enabled economic elites to solve their industrial problems through foreign cheap labor in the 1990s and afterward.

In the 1980s, corporations struggled, but in the 1990s with NAFTA and then the entry of China into the World Trade Organization, corporations through offshoring were rejuvenated.

Together these policies produced deindustrialization, a primary source of worker alienation from politics.

Colaboradores

Judith Stein é professora ilustre de história no City College of New York Graduate Center.

Connor Kilpatrick é o editor de histórias da Jacobin.

18 de junho de 2016

O sistema

André Singer

Folha de S.Paulo


A delação completa de Sérgio Machado, além de detonar a cúpula peemedebista, mostra a longevidade das práticas desbaratadas pela Lava Jato. O Estado não foi tomado em 2003 por uma organização criminosa especializada em propinas: esse é o modo tradicional de financiamento político no Brasil. Para não deixar dúvidas, o delator retroage ao longínquo ano de 1946, ou seja, quando se inaugurou a democracia de massa no país e as campanhas ficaram mais caras, o ponto em que situa o início da maracutaia generalizada.

O ex-presidente da Transpetro sabe do que fala. Consta no "Dicionário Histórico-Biográfico" do CPDOC, a fonte mais confiável sobre os políticos brasileiros, que seu pai ingressou no antigo PSD (Partido Social Democrático) em 1946, e foi, sucessivamente, deputado estadual, federal e ministro de Viação e Obras Públicas. Ficou na Câmara até ser sucedido pelo filho, em 1991, numa típica passagem das aristocracias que compõem o Parlamento.

Que o regime 1946-1964 fosse tocado a expressivas doses de corrupção não surpreende qualquer leitor medianamente informado. Embora as denúncias recaíssem, de maneira desequilibrada, sobretudo em cima da coalizão popular getulista, atingiam todo o espectro. Basta lembrar o dístico que celebrizou o ex-governador paulista Adhemar de Barros (longe de ser um contestatário): rouba, mas faz.

Quanto ao período militar (1964-1985), se faltassem dados antigos, aí está o depoimento recente do empresário Ricardo Semler, segundo o qual, nos anos 1970, era impossível vender equipamentos para a Petrobras sem pagamento de propina. Na mesma direção, Pedro Corrêa, ex-deputado e ex-presidente do PP, herdeiro da antiga Arena, afirmou, na sua colaboração premiada, saber dos desvios na estatal desde a ditadura. O próprio depoente reconheceu receber propinas desde aquela época, só que por contratos no velho Inamps.

Restabelecidos os civis no poder, pouco parece ter mudado. O pessedebista Semler relata que a sua empresa voltou a tentar vender para a Petrobras nos anos 1980 e 1990, encontrando a mesma situação anterior. "Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso", escreveu. Senador pelo PSDB durante o mandato de FHC, Machado, ele mesmo, realizou operações de desvio para os tucanos (que haviam deixado o PMDB em 1988 por causa da corrupção!).

Nada disso exime o PT, principal acusado antes de Machado escancarar a abrangência do método. Ao contrário, também criado para combater tais práticas, o partido precisa explicar por que, onde e quando mudou de direção. Mas descarregar toda a indignação sobre o petismo não só é injusto, como não contribuirá para que o sistema no Brasil de fato mude.

É cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula.

Escreve aos sábados.

13 de junho de 2016

A era da ilusão

Jake Blumgart

Uma entrevista com 
Chris Hayes



Tradução / Crise é o lema do nosso tempo. Após a aurora do novo milênio, a América cambaleou de fracasso em fracasso. A eleição de Barack Obama levou esperança a muitos, mas a realidade de uma política econômica profundamente disfuncional não se rendeu imediatamente a um ou dois bons discursos. Enquanto escrevo, o colapso em câmera lenta da educação pública, ajudado pelas políticas de uma administração democrata, continua em passo acelerado. O sistema financeiro parece mais desajeitado, negligente, obscuro e insanamente poderoso do que nunca. Eu poderia continuar, mas minha depressão incapacitante me impede de listar mais exemplos deprimentes.

Chris Hayes tem uma teoria sobre por que tudo está indo direto para o inferno. Os culpados não são o elenco típico de republicanos, fundamentalistas e caipiras. É a meritocracia que fez isso.

Chris Hayes é editor da revista The Nation e apresentador do único programa de notícias da TV a cabo que merece ser visto. Em seu novo livro, Twilight of the elites (O caso das elites), ele explica que a “década perdida” é resultado de uma elite meritocrática corrupta e isolada, que não ajuda e é disfuncional. Hayes argumenta que são os ideais meritocráticos dessas elites, calcificados em caricaturas perversas, que produzem suas repetidas tolices. Uma ampla igualdade, embora apoiada numa concepção rasa, permite uma maior aceitação do, digamos, casamento gay, mas faz da mobilidade social um delírio, deixa as classes trabalhadora e média sem participação ativa e a rede de segurança sob ataque permanente.

O livro é fortemente influenciado pelos trabalhos de Christopher Lasch, cuja obra de 1994, The revolt of the elites (A rebelião das elites, na edição em português), antecipa muitos argumentos de Hayes, e de Robert Michels, um intelectual socialista do início do século XX, cujo livro mais famoso, Political parties (Partidos políticos), argumenta que organizações, até mesmo as de esquerda, inevitavelmente “escorregam” para a oligarquia. Eu li todos os três livros em uma explosão inspirada de compreensão e, em seguida, atravessei uma maré de crianças em idade escolar para conhecer Hayes em um restaurante perto de sua casa em Park Slope, onde a elite vai se reproduzir. A seguir, uma versão levemente editada de nossa discussão sobre café, omeletes e hash brown.

Jake Blumgart

O senhor argumenta que a meritocracia inevitavelmente espalha-se por metástase na oligarquia, criando “elites que não podem ajudar e são disfuncionais e corruptas”. Qual o problema em deixar os mais espertos e mais dinâmicos dirigirem a sociedade?

Chris Hayes

Eu acho que as pessoas são resistentes à ideia porque a meritocracia é nosso ideal social, particularmente entre os bons liberais. Igualdade de oportunidades, mas não de resultados. Não avaliar pessoas por seus [aparentes] atributos, mas por seu talento próprio e dinamismo. E eu não digo isso zombeteiramente. É uma visão incrivelmente atraente. Mas a meritocracia contém as sementes de sua própria destruição. Ela permite a desigualdade. Como um ethos, ela não se preocupa com os resultados. Mas tais resultados têm efeitos reais. E estes arruínam o sistema para produzir mais desigualdade e restringir a igualdade de oportunidades.

A meritocracia leva à oligarquia. A high school que frequentei é uma parábola concreta nesse sentido. O Hunter College High School [uma escola pública de prestígio em Manhattan] é um lugar incrível que, de alguma maneira, apoia uma visão austera de meritocracia. Eles têm um teste de admissão e, literalmente, não importa se você é filha do prefeito Bloomberg, se não passar no teste, você não entra. Conversei com a presidente do Hunter e ela me disse: “Você não iria acreditar nos telefonemas que recebo, e de quem eu recebo, perguntando se tem algum jeito de fazer um acordo...’” Há algo inacreditável sobre isso, particularmente em uma época em que muito poucas instituições podem dizer com segurança que a filha do prefeito Bloomberg não seria (necessariamente) aceita.

Mas o que aconteceu com esse, em algum nível brutalmente equitativo, sistema? Essa igualdade está embutida em um sistema social cheio de desigualdade, que penetra no sistema e o coloniza. Nós tivemos o crescimento dessa tremenda indústria de provas e pré-testes em Nova York, junto com o crescimento maciço da desigualdade. Isso produziu um sistema no qual a escola está agora admitindo apenas entre três e cinco estudantes negros e latinos. The students they are admitting are almost entirely white, affluent kids with tutors or second generation, first generation immigrants from Queens and other places where the parents pay for test prep. Você acaba tendo um sistema onde quem você está realmente deixando entrar são crianças com acesso a testes preparatórios, crianças com acesso a recursos. Hunter pode ser um incrível motor de mobilidade, mas ao longo do tempo não poderá ajudar e falhará se não estiver incorporada em uma sociedade que tem um compromisso com a igualdade de condições para seus membros. Essa é a alma teórica do livro.

Meritocracy has amazing things about it and terrible things about it. Part of the purpose of the long section on Major League Baseball is to show that one of the outgrowths of a system of incredibly intense emphasis on performance, with finely granulated judgments of who’s better than whom, is that you produce real intense incentives for fraud, for cheating. And that’s not to say its impossible, but in the same way that everyone recognizes that a bureaucracy or a system driven by seniority, that there side effects to that, you need to keep people motivated and you have to make sure you don’t end up with blockages and obstacles to getting things done. Se nós vamos continuar embarcando nesse projeto meritocrático, devemos ter os olhos abertos para seus efeitos negativos.

Os escândalos dos testes educacionais de Atlanta realmente exemplificam isso para mim.

That’s a perfect example. There is a certain social vision that bureaucracy is bad and meritocracy is good and we are going to replace the [former with the latter]. That’s clearly what a lot of the education reform fight is about. One of the points of the book is, wait a second, it’s a lot more complicated than bureaucracy bad, meritocracy good. You can create tremendously destructive meritocracies. One of the interesting things about doing reporting for the book was talking to people from Enron. People loved that company. Numerous people said to me, it was the least bureaucratic place I ever worked, you couldn’t keep deadwood around. The favored son of some manager wouldn’t cut it, because everything was structured in a very fluid way. People really loved that. There are benefits.

Gostei da sua descrição de meritocracia como “uma nova hierarquia baseada na noção de que pessoas são profundamente desiguais em habilidades e dinamismo”. Quando posto dessa forma, parece uma ideia profundamente conservadora, ignorando realidades sociais de pobreza, racismo estrutural, falta de mobilidade social.

Essa ideia de “igualdade de oportunidades, não de resultados” é muito bipartidarista, quase sem sentido. Mas isso significa algo, tem uma política. Um dos resultados inevitáveis é que você vai pedir para o sistema educacional expiar os pecados de todo o resto da sociedade. É o único lugar onde nós podemos fazer intervenções. E isso é o que você está vendo na nossa política, esse é o lugar onde a energia está sendo gerada.

A política educacional é o lugar onde parece haver sobreposição bipartidária.

Não é por acaso que todos os caras de hedge fund estão financiando reformas nas escolas. Acho que eles realmente acreditam, são realmente idealistas nesse sentido. Eles odeiam sindicatos também. Mas eles veem uma sociedade manifestamente desigual e, nos termos da ideologia deles, o jeito de lidar com isso é melhorar a educação. Meu ponto é que toda a estrutura está errada.

Education policy is the one place where there seems to be bipartisan overlap.

It’s not an accident that all the hedge fund guys are funding school reform. I think they really believe, really are idealistic in that sense. They hate unions too. But they see a manifestly unequal society and within the terms of the ideology they have, the way to deal with that is to make education better. My point is that their whole framework is screwed up.

They have this view from 20,000 feet of what education policy should be, but they are too far removed to get any feedback from the community when it doesn’t work.

Exactly. These are the concrete effects of having an unequal enough society that these guys... don’t get feedback.

Despite its seeming novelty, this isn’t a new idea. Back in 1994, Christopher Lasch (whom you cite) wrote: “the chief threat seems to come from those at the top of the social hierarchy, [“new aristocracy of brains”] not the masses... Meritocracy is a parody of democracy.” How influenced were you by Lasch’s work, where do you diverge from his analysis, and how have things changed since his writing?

I’m heavily influenced by his work. And the trends have only gotten much, much, much worse. In fact, I think that’s a very prophetic book. He deals with the way it sort of destroys the moral fabric of society, and is unjust. But my book, I don’t think it’s a very moralistic book. Lasch is making a very moralistic argument; he’s a polemicist, a Jeremiah figure, a prophet railing against the fallen society in which he lives. I’m trying to make, in some ways, a practical argument. About the practical effects, the negative consequences. No one wants an Enron, no one wants a financial crisis.

I want to circle back to something you said about reporting for the book. In contrast to Lasch and Michels, you come from a journalistic background. You’ve engaged with actual people while writing this book. How did that affect your perspective and work?

It’s a methodological toolkit I’ve been trained in. It’s a huge part of how I learn about the world. There’s a certain form of content synergy in so far as, you know, if the problem is social distance . . . I mean, look, I’m a member of the elite I’m writing about. That’s a weird and uncomfortable thing for me to say, but there is no definition of the elite, no plausible, coherent one, that I don’t belong to. I’m just as subject to the same forces, so it’s really important for me to actually talk to people. And I think reporting makes it more compelling storytelling. The book’s form is weird in a way; it’s both a reported work and a work of theory.

O socialista Robert Michels teve uma forte influência em seu trabalho, mas a conclusão dele — “democracia leva à oligarquia e necessariamente contém um núcleo oligárquico” — implica limites intrínsecos ao radicalismo de qualquer projeto. Uma elite melhor é o máximo que podemos esperar?

I was having an exchange with someone who was really active in OWS and I asked him about this horizontalism and, yeah, I’m with Michels on the limits of horizontalism. At a certain point you run up against these basic mundane, logistical problems. Again, I don’t want to over generalize, there are some cooperatives that are really functional and some that are complete nightmares. But Michels core insight, it seems to me, is undeniable.  The question is what you do with it. Michels took it and became a fascist.

He pitches it as an objective truth he’s found.

That’s another place where his influence shows in my book. He actually isn’t making a moral argument; he’s making an almost entirely practical one about organization. I’m trying to do an analogous work on meritocracy.

But the question was about better elites... Não há solução final, não há condição estática... A natureza de ter compromissos igualitários é reconhecer que o trabalho nunca chega ao fim... A inevitabilidade disso é um pouco como o ensaio de Albert Camus, “O Mito de Sísifo”. A inevitabilidade não significa que seja inválido, significa que a luta continua. Você continua lutando por igualdade porque a igualdade não é o estado natural dos seres humanos; eu acho que esse é de alguma maneira o insight realmente profundo. A desigualdade é impossível de ser evitada. Inequality and hierarchy are natural, but that doesn’t mean they are right, that doesn’t mean there is isn’t a productive tension between those forces and the forces of equality. You need the horizontalism always present as a challenge, different egalitarian movements or forces pushing and forcing events, if you are going to create this vibrant tension, rather than some end of history equilibrium.

Michels sentia que tinha provado a impossibilidade do socialismo e da democracia. O senhor teme uma análise do tipo “fracasso quase total das instituições pilares da nossa sociedade”?

Sim, estou muito preocupado com isso. Acho que os dados são interessantes, você vê que as duas instituições que ganharam confiança pública são os militares e a polícia. A instituição mais confiável no país são os militares, a menos confiável é o Congresso. O autoritarismo se torna muito sedutor em tempos de uma elite desacreditada, mas é importante manter tudo isso em termos relativos. Não estamos em crise como a Grécia. Na Grécia, o partido [neonazista] Golden Dawn obteve 7% nas últimas eleições [permitindo a possibilidade de assentos no parlamento], and who knows what they are going to get in June? Probably higher.

Or consider the Hungarian example.

Hungary’s even worse. But I don’t want to be too alarmist. We are not Hungary, we are not Greece... But because we are so powerful our failures resonate more. In some ways, the worst victims of our institutional and elite failures, through the ripple effect of financial crisis and war, aren’t Americans.

With the massive power differentials you describe, how can we hope to enact real reform? In the case of, say, abolition or civil rights there were other powerful groups for the oppressed to ally with. Or a strong labor movement, or mass based political party that wasn’t dependent on wealthy. That seems harder to imagine here. I don’t really see a power base that can push back.

The argument I make in the book, and it’s a tentative argument, but I do think there is a potential for a radicalized upper-middle class. We already see that, it’s just a question of how that gets channeled. Everything about the Netroots, the anti-war, anti-Bush sentiment [the Tea Party is also cited in the book]. One of the interesting things about the way our certain kind of fractal inequality has manifested, the people who see it the most, have the closest proximity to it, say, the top 2 to the top 20 percent: ‘I went to law school with Joe and I have some job at a firm and I’m doing alright, but he went into a hedge fund and is making $10 million.’

That is a lot of power, resources, cultural capital, network, class, monetary power. The working class has already been ground into dust in terms of political power, as I cite in the book the Martin Gilens and Larry Bartels studies showing [the preferences of voters in the top one-third of income distribution are represented in the votes of senators to the exclusion of everyone else]. It’s not uncommon for revolutions to stem from a radicalized group just outside the circle of power. That’s what the French Revolution was all about, that’s what the American Revolution was. The question is will all those groups, because of the nature of partisan polarization and ideological polarization, just going to fight each other? Or is there capacity to organize?

I don’t want to be overly optimistic because I don’t think polarization is some kind of grand distraction. It’s real. People have different commitments, believe in different things and principals, different visions of the good life . . . but there is also a degree to which all the really big, successful reform movements in the country had extremely bizarre ideological coalitions. Abolition did, Prohibition did. So I wonder if that’s the way out for us.

O senhor menciona a guinada da América Latina à esquerda como um exemplo entre as nações que consideraram seriamente a desigualdade e entre partidos que utilizaram políticas progressistas para reduzir isso. Que lições podem ser tiradas dos progressistas da América Latina? Que parte da experiência deles é replicável?

A lição importante é que isso é factível. O governo Lula [no Brasil] começou dando muito dinheiro para os pobres. Isto não é algo que esteja fora do nosso controle, há coisas que podemos fazer. Alguns tiveram mais sucesso que outros. Outra lição importante é que isso não precisa acontecer ao custo do crescimento. Which is always the tradeoff [that is posited]. Brazil is a complicated case because there has been a huge boom in energy exports due to sugar-based ethanol. And obviously it’s easier to grow faster when you are a less developed country than when you are where the US is.

Na história básica da América Latina, 10 a 20 anos de presença do FMI impuseram austeridade e ajuste estrutural que resultaram em crise, pobreza e desigualdade terríveis, o que provocou revoltas pelo continente. Líderes de esquerda e centro-esquerda votaram em quem tinha mandatos e coalizões políticas nos quais a desigualdade era uma parte explícita de suas agendas e então implementaram políticas que eram igualitárias. Mais uma vez, há tremendas diferenças entre o Brasil e a Bolívia e, definitivamente, a Venezuela, que é um caso especial por causa de Hugo Chávez e da política venezuelana. Mas aquele drama em três atos é a história básica — crise financeira e enorme desigualdade, revoltas contra isso e governo eleito para diminuir a desigualdade.

Em Twilight of the elites, você faz a defesa do “romper a normalidade e o conforto da elite”. Por quais ações e organizações você está mais entusiasmado?

Vejo muita esperança nas mobilizações do tipo Occupy. Acho que são incrivelmente importantes, porque uma das coisas estranhas sobre o bizarro intervalo pós-crise em que estamos é que as elites, uma vez que produziram a crise, fizeram um bom trabalho ao, essencialmente, manter o barco flutuando. Gente como Ben Bernanke, Henry Paulson, Timothy Geithner, o presidente Barack Obama. Poderia realmente ter sido muito pior. Veja a Europa. Nós poderíamos ter 20% de desempregados. Eles poderiam ter feito besteira suficiente para chegar nisso. E se eles tivessem feito, provavelmente haveria mais movimentos de massa nas ruas.

O potencial para a crise é claro para todo mundo, mas a profundidade real e a intensidade da crise atual é sentida por pessoas que são pobres ou desempregadas. É horrível, miserável e penetrante. Mas 8% de desemprego não são 20% de desemprego. Há esse estranho, frustrado senso de infelicidade com o status quo e, ainda, um tipo de retorno ao estado normal. Quero que façamos as mudanças de que precisamos e redistribuamos o poder do mesmo modo, mas eu não desejo a crise. A crise é horrível e fere mais as pessoas mais pobres. Então o que realmente precisamos fazer é criar uma ruptura, porque senão haverá um rompimento exógeno, que significará outro choque, outra crise, ou essa ruptura será feita por meio de movimentos, protestos de rua e todas as maneiras criativas de dizer “não, isto não é sustentável”.

Eu realmente me preocupo porque, se as análises estão certas, a atual constituição da elite americana e do poder americano irão, inevitavelmente, nos levar em direção a outra crise. Então essa é nossa chance para, de certo modo, salvar as elites delas mesmas. E nós vemos isso nas notícias do JP Morgan Chase nas últimas semanas. Os caras mais espertos do mundo, de volta à mesa do cassino.

Sobre o entrevistado

Sobre o entrevistador

Jake Blumgart is a freelance writer and editor in Philadelphia.

Guia essencial para a Jacobin

A Jacobin tem divulgado conteúdo socialista em ritmo acelerado desde 2010. Eis aqui um guia prático para algumas das obras mais importantes ...