6 de julho de 2015

O novo movimento de desinvestimento

Depois de quase dois anos de organização estudantil, Universidade Columbia retira investimento da indústria da prisão privada esta semana.

George Joseph

Jacobin

Tradução / Na última semana, líderes estudantis norte-americanos anunciaram que o conselho administrativo da Universidade Columbia, em Nova York, votou pela retirada dos investimentos da instituição do setor prisional privado. Esta é uma vitória da campanha liderada pelo grupo estudantil Columbia Prison Divest ("Desinvestimento Prisional da Universidade Columbia"), realizada ao longo dos últimos dois anos.

A votação decidiu que a universidade venderá suas ações da G4S, empresa britânica do setor de prisões e de segurança privada que opera penitenciárias no mundo todo e fornece equipamentos para postos de controle israelenses na Palestina ocupada. Além disso, a Universidade Columbia se comprometeu com nunca mais investir qualquer parte de seu orçamento de mais de 8 bilhões de dólares em empresas privadas do setor prisional, como a Corrections Corporation of America, da qual a universidade possuía ações no valor de 8 milhões de dólares, segundo um relatório estudantil.

Estes investimentos são uma pequena parcela do lucro de cerca de 3 bilhões de dólares gerado anualmente por prisões, penitenciárias e instalações de detenções para estrangeiros em situação irregular. Os estudantes argumentam que a campanha nunca teve a intenção de fazer grande diferença nas margens de lucro destas empresas, mas, na verdade, visava chamar atenção para esta indústria e para o encarceramento em massa de maneira mais ampla nos Estados Unidos.

"São empresas de bilhões de dólares", disse Gabriela Pelsinger, organizadora da Columbia Prison Divest. "Se quisermos colocar um fim nisso, temos que nos focar na engrenagem econômica que movimenta a exploração e o encarceramento, expondo-a. Em grande parte, esta engrenagem é o lobby e a presença política das empresas privadas do setor".

O ímpeto para a campanha veio de uma visita da então veterana Asha Rosa e de uma amiga à secretaria de "investimento socialmente responsável" da universidade, em dezembro de 2013. Ao perguntarem onde a Columbia estava investindo seu dinheiro, descobriram que pelo menos 10 milhões de dólares eram investidos diretamente em empresas privadas do setor prisional. "Assim que vimos a lista, não paramos um minuto para nos perguntar se deveríamos ou não tomar uma atitude", diz.

No dia 3 de fevereiro de 2014, um grupo de cerca de vinte estudantes foi até o escritório do presidente da universidade, Lee Bollinger, e leu uma carta exigindo que a escola deixasse de investir no setor.

Desde o início, no entanto, os organizadores do movimento Columbia Prison Divest sabiam que teriam de promover uma mobilização local para difundir sua mensagem de maneira direta. No primeiro artigo do jornal universitário Columbia Spectator sobre a campanha, por exemplo, o jornal contestou as referências dos organizadores à Palestina e afirmou que o ponto principal dos esforços deveria ser tornar os dados financeiros da universidade mais transparentes.

Desta forma, em lugar de esperar a atenção da mídia para difundir sua mensagem, a Columbia Prison Divest buscou se fortalecer criando vínculos com a comunidade universitária, buscando interagir ativamente com estudantes e funcionários pelo menos semanalmente e, às vezes, diariamente. "Organizar uma campanha midiática é importante, mas isso não pode substituir a organização das pessoas", diz Rosa.

"Tínhamos um cartaz pendurado na parede com todos os nossos objetivos. Nós circulamos e grifamos três deles: 1) retirada dos investimentos, 2) educar as pessoas a respeito de sistemas prisionais e de policiamento, 3) contribuir com um movimento mais amplo pela abolição das penitenciárias", explica Rosa. "Dissemos a nós mesmos que não teríamos vencido se não mudássemos fundamentalmente a maneira como as pessoas pensam sobre tudo isso, do encarceramento em massa à Palestina. Não seria uma vitória se não conseguíssemos nos conectar a movimentos sociais maiores na cidade de Nova York. O fato de que a Universidade Columbia deixou de investir 10 milhões não significa que empresas como a CCA ou a G4S deixarão de existir e, por isso, a forma como isso é feito é igualmente importante".

O surgimento da indústria prisional privada nos Estados Unidos começou em meados dos anos 1980, em resposta à superlotação e aos crescentes custos das prisões estatais, causados por uma "guerra às drogas" racista e por uma legislação "severa contra o crime". Por meio de um lobby persistente e de influência legislativa, as empresas privadas do setor prisional cresceram, chegando a encarcerar 19% da população prisional federal e 7% da população prisional estadual.

Foi este tipo de informação que os organizadores divulgaram por meio de apresentações e encontros, levando estudantes interessados a desenvolver uma compreensão maior sobre a forma pela qual o aumento do setor prisional privado está intimamente ligado ao encarceramento em massa e ao capitalismo.

"A campanha foi iniciada por estudantes em um grupo que já existia chamado Students Against Mass Incarceration ["Estudantes contra o Encarceramento em Massa"], que tinha como base políticas antirracismo, antiencarceramento e anticapitalismo", disse Dunni Oduyemi, organizadora da Columbia Prison Divest. "Desta forma, baseamos nossa educação política para a comunidade e nossas mensagens naquelas ideias. Queríamos chegar até os estudantes mais liberais da Columbia, mas evitar que nossa mensagem parecesse alguma solução simplista e vaga".

Em outras palavras, não era suficiente convencer as pessoas de que as prisões privadas eram o problema. "Quando começamos, falávamos com pessoas com quase nenhuma consciência política, dizendo: 'É por isto tudo que as prisões privadas são ruins'", diz Rosa. "Mas, por fim, decidimos mudar nosso discurso, adequando-o ao que realmente queríamos dizer: 'Todas as prisões são instituições degradantes e violentas, vamos pensar em como as prisões privadas se encaixam neste modelo?'. Perguntávamos: 'Como podemos nos organizar da maneira mais honesta?' Não queríamos ganhar por meio de um recurso à política fiscal, como os irmãos Koch".

O trabalho do grupo para transformar a campanha em um movimento político e de maior abrangência, mais racialmente diverso do que qualquer outro na memória recente da universidade, deu ao movimento um impulso inexorável.

Enquanto o apoio e a filiação ao grupo No Red Tape, que atua contra a violência sexual na universidade, diminuiu ao longo do ano, a abordagem democrática do Columbia Prison Divest fez com que a filiação crescesse cada vez mais, ainda que a elite nova-iorquina tenha lhe dado menos atenção.

Galvanizado pelo movimento Black Lives Matter ("As Vidas das Pessoas Negras Importam", em tradução livre), o grupo deu início a atividades de militância cada vez mais intensas, realizando uma passeata pelo campus, confrontando Bollinger, reunindo-se diante de prefeituras para pressionar seus administradores e terminando o ano em um protesto sentado do lado de fora do escritório do presidente. "Usamos várias estratégias, algumas por meio de processos burocráticos da universidade, mesmo sabendo que a estrutura não havia sido criada para que vencêssemos", explica Rosa. "Dissemos que iríamos abrir um processo administrativo contra o presidente Bollinger e que apareceríamos em todos os eventos universitários em que ele estivesse".

No protesto sentado, diz Oduyemi, quase todos os grupos de militância por justiça social do campus compareceram para demonstrar apoio à causa, incluindo Students Against Mass Incarceration, Black Students' Organization ("Organização dos Estudantes Negros"), Students for Justice in Palestine ("Estudantes por Justiça na Palestina") e Student Worker Solidarity ("Solidariedade entre Estudantes e Trabalhadores"). Além da tradicional esquerda da Universidade Columbia, membros da comunidade organizados contra a gentrificação e o policiamento excessivo na região oeste do bairro do Harlem também prestaram solidariedade.

Embora a vitória da campanha Columbia Prison Divest seja a primeira do tipo em um campus universitário nos EUA, ela reflete o fato de que o sistema de encarceramento em massa norte-americano está se tornando cada vez mais conhecido do público.

Nos EUA, a demanda pela retirada dos investimentos no setor prisional parece estar se espalhando para além do campus da Universidade Columbia, evocando as reivindicações estudantis dos anos 1980, que exigiam o fim dos investimentos na África do Sul sob o apartheid. Desde 2013, cinco conselhos estudantis da Universidade da Califórnia aprovaram resoluções que exigem o fim dos investimentos na indústria prisional privada, e os estudantes da Universidade da Cidade de Nova York, da Universidade Wesleyan e da Universidade de Nova York estão se organizando de maneira similar aos de Columbia.

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