2 de abril de 2013

Quem são os donos da Escócia?

Peter Geoghegan


Tradução / A Scottish Land and Estates, que representa os proprietários de terras na Escócia, realizou recentemente um vídeo promocional para juntar à sua resposta ao apelo do grupo governamental para a preparação de uma reforma agrária (Land Reform Review Group). Os dez minutos de filme abrem com a garantia dada por Luke Borwick, o secretário do grupo, de que os proprietários de terras escoceses não são plutocratas: “A grande maioria dos nossos membros são pequenos ou médios proprietários com posse e uso”. Como ele diz, o filme reduz-se a imagens de um casal passeando junto a um enorme monte e a um jantar de bêbados. Trata-se de Roshven House. São 50 acres perto de Fort William, Roshven está avaliado em valor de locação (por 11,000 Libras por semana).

Contrariamente ao que é costume num vídeo de relações públicas, o que os vários representantes engravatados dizem é muitas vezes tão interessante como o que não dizem. John Glen, o diretor executivo de Buccleuch Estates diz que os membros da Scottish and Land Estates “gerem um razoável volume de recursos naturais”. E tem razão: entre eles, os 2.500 membros devem ser proprietários de três quartos do território escocês. (A Buccleuch, sozinha, controla cerca de 250,000 acres). No “clip” seguinte, Glen insurge-se contra o desemprego jovem (“o maior desafio que enfrentamos hoje”). Uma série de hipóteses de empregos aparecem na tela: “Mecânico”, “Pastor”, “Guarda-caça” e, em grandes letras no centro da tela, “Assistente Financeiro”.

Andrew Bradford, da Kinkardine Estate, tem em pouca conta a eficiência dos proprietários privados para encontrar soluções de habitação para a população rural. Os proprietários “podem integrar a manutenção dos alojamentos” com outros trabalhos tais como a agricultura e a silvicultura, diz ele, “de forma a que o sujeito que está ali a reparar uma casa hoje, possa amanhã estar envolvido na reparação de uma cerca”. Em quase oito minutos, Borwick sugere ao espetador que esqueça “os acontecimentos históricos, particularmente nas Highlands” (as Clearences, provavelmente) . “O que importa agora é o futuro do setor rural na Escócia”.

O futuro do setor rural é, em parte, o objetivo do Land Reform Review Group. Alex Salmond anunciou no Verão passado, após um encontro do gabinete Governamental Escocês em Skye, a criação de um painel de três membros para estudar a reforma agrária. Até agora surgiram mais de 500 propostas, mas o Governo Escocês não quer fazer nenhuma declaração pública até o relatório final ser publicado no próximo ano.

A Escócia tem “um modelo particularmente concentrado de propriedade rural”, segundo Andy Wightman, um ativista da reforma agrária e autor de The Poor Had No Lawyers: Who Owns Scotland (And How They Got It). “A Escócia parece-se com a Irlanda antes de 1880”. O Land Reform Review Group provavelmente não poderá alterar isto em grande escala. O grupo inclui vozes importantes, de há muito favoráveis à reforma agrária (em especial o historiador das Highlands, professor James Hunter), mas o seu relatório só deve aparecer em abril próximo, altura em que provavelmente será reduzido a um curto texto, contaminado pelo debate do referendo.

Para o fim do vídeo, Borwick acrescenta um “estudo independente” em apoio da manutenção do status quo. Realizado em 2010, esse estudo encontrou, entre outras coisas, “uma generalizada falta de conhecimento e de informação sobre propriedades por parte do público escocês”. O que é em grande parte uma verdade: a propriedade rural raramente é mencionada no dia a dia da vida escocesa. Não existe um movimento significativo pró-reforma agrária. Ninguém na Scottish Land and Estates diz isso em frente da câmera, mas todos esperam que as coisas fiquem como estão.

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