counterpunch: Tells the Facts and Names the Names
O início da Batalha de Somme foi a 1 de Julho de 1916. Só nesse dia os britânicos sofreram mais de 50 mil baixas, das quais 20 mil mortos. A batalha perdurou por quatro meses, levando a cerca de um milhão de baixas em todos os lados, e a própria guerra continuou por mais dois anos.
No verão de 2006 o exército israelense interrompeu seus ataques ao Líbano depois de perder cerca de uma centena de soldados. A maioria da população estadunidense voltou-se contra a guerra do Iraque depois de menos de 3000 mortos. Isto indica uma grande mudança na mentalidade do Ocidente, e a sua relutância em morrer em grandes números "por Deus e pela Pátria" é um grande avanço na história da espécie humana. Do ponto de vista neoconservador, contudo, este fenómeno é um sinal de decadência. De facto, na sua perspectiva, um dos aspectos positivos do actual conflito é que pode fortalecer a fibra moral do povo americano, tornando-o pronto a "morrer por uma causa".
Mas, até agora, isto não está a funcionar. Gente mais realista, como os planeadores do Pentágono por exemplo, tentaram substituir ondas de carne para canhão por bombardeamento "estratégico" maciço. Isto raramente funciona – no Kosovo e na Sérvia teve êxito, pelo menos ao levar ao poder clientes pró-ocidentais em ambos os lugares. Mas, claramente, não está a funcionar satisfatoriamente no Iraque, Afeganistão, Palestina ou Líbano. A única coisa que pode ter êxito, claro que num sentido muito especial, seria as armas nucleares, e o facto de estas armas serem a última esperança militar do Ocidente é realmente assustador.
Para por esta observação num contexto mais global, os ocidentais nem sempre percebem o facto de que o maior evento do século XX não foi nem a ascensão e queda do fascismo, nem a história do comunismo, mas sim a descolonização. Alguém deveria recordar que, há cerca de um século, a Grã-Bretanha podia proibir o acesso a um parque em Shangai aos "cães e chineses". Para dizer isto de forma suave, tais provocações já não são possíveis. E, naturalmente, a maior parte da Ásia e da África estava sob controle europeu. A América Latina era formalmente independente, mas sob a tutela americana e britânica, e as intervenções militares eram rotina.
Tudo isto entrou em colapso durante o século XX, através de guerras e revoluções. De facto, o principal efeito que perdurou da Revolução Russa é provavelmente o apoio significativo da União Soviética ao processo de descolonização. Este processo libertou centenas de milhões de pessoas de uma das mais brutais formas de opressão. É um grande progresso na história da humanidade, semelhante à abolição da escravatura nos séculos XVIII e XIX.
Ainda assim, é verdade que o sistema colonial deu lugar ao neocolonial e que a maior parte dos países descolonizados adoptou, pelo menos por agora, uma forma capitalista de desenvolvimento. Isto proporcionou alguma consolação aos ex-colonialistas (e desapontamento à esquerda ocidental que se opôs ao colonialismo). Mas tais sentimentos podem reflectir uma má compreensão da natureza do "socialismo" no século XX e do significado histórico do presente período.
Antes de 1914, todos os movimentos socialistas, quer fossem libertários ou estatistas, reformistas ou revolucionários, encaravam o socialismo, isto é, a socialização dos meios de produção, como uma etapa histórica que era suposta suceder ao capitalismo nas sociedades ocidentais relativamente desenvolvidas, com um sistema de educação em funcionamento e uma cultura basicamente liberal e secular. Tudo isto desapareceu com a I Guerra Mundial e a Revolução Russa. Depois disso, os aspectos libertários do socialismo atrofiaram-se, a maior parte do movimento socialista europeu tornou-se cada vez mais incorporado ao sistema capitalista e o seu sector radical principal, os comunistas, identificaram o socialismo com quaisquer políticas que fossem adoptadas pelo modelo soviético.
Mas aquela quase nada tinha a ver com o socialismo tal como era geralmente entendido antes da I Guerra Mundial. Deveria antes ser considerado como uma (especialmente exitosa) tentativa de desenvolvimento económico rápido de um pais subdesenvolvido, uma tentativa de alcançar, cultural, económica e militarmente, por quaisquer meios necessários, o Ocidente. O mesmo é verdadeiro em relação às revoluções pós-soviéticas e movimentos de libertação nacional. Numa primeira aproximação, alguém poderia dizer que por todo o Terceiro Mundo os povos, ou melhor, os governos, tentaram "alcançar" tanto por meios "socialistas" como "capitalistas".
Mas, se se reconhecer este aspecto, toda a história do século XX pode ser interpretada de modo muito diferente ao que prevalece: o do "socialismo que foi tentado e fracassou por toda a parte". O que foi tentada e realmente teve êxito (quase) em toda a parte foi a emancipação do domínio ocidental. Isto inverteu um processo secular de expansão europeia e de hegemonia sobre o resto do mundo. O século XX não foi o do socialismo, mas sim o do anti-imperialismo. E esta inversão é provável que continue durante o século XXI. A maior parte do tempo o "Sul" está a fortalecer-se, com alguns retrocessos (o período em torno do colapso da União Soviética sendo um tempo de regressão, deste ponto de vista).
Isto tem importantes consequências tanto para o movimento pela paz ocidental como para a velha questão do socialismo. Há alguma verdade na ideia leninista de que os benefícios do imperialismo corrompem a classe trabalhadora ocidental não apenas em termos puramente económicos (através da exploração da colónias) como também através do sentimento de superioridade que o imperialismo implantou nas mentes ocidentais. Entretanto, isto está a mudar devido a duas razões. Por um lado, a "globalização" significa que o Ocidente tornou-se mais dependente do Terceiro Mundo: nós não importamos simplesmente matérias-primas ou exportamos capital, também dependemos do trabalho barato, tanto aqui como em fábricas no exterior orientadas para a exportação; "transferimos" capital do Sul para o Norte através de "pagamentos da dívida" e fuga de capitais, e importamos um número crescente de engenheiros e cientistas. Além disso, "globalização" significa que reduz-se a ligação entre a população dos EUA e as suas elites ou os seus capitalistas, cujos interesses estão cada vez menos ligados àqueles do "seu" país. Se a população reagirá pela adopção de algumas fantasias pró-imperialistas tais como o sionismo cristão ou a "guerra contra o terrorismo" ou se, ao contrário, aumentará a sua solidariedade para com os países emergentes do Sul, é o grande desafio do futuro.
Por outro lado, a ascensão do Sul significa que já não há uma correlação de forças militar que permita ao Ocidente impor a sua vontade, sendo a derrota americana no Iraque a mais extraordinária ilustração deste facto. Naturalmente, há outros meios de pressão económica através de chantagem, boicotes, compras de eleições, etc. Mas também estão a ser tomadas cada vez mais contra-medidas para se opor a tais métodos, e nunca se deve esquecer que uma correlação de forças afinal das contas é sempre militar. Sem isto, como se faz, por exemplo, para um povo pagar as suas dívidas?
O principal erro dos comunistas foi ter fundido duas noções de "socialismo": a que existia antes da I Guerra Mundial e o desenvolvimento rápido da União Soviética. Mas a situação actual levanta duas questões diferentes para as quais duas diferentes formas de "socialismo" podem constituir a resposta. Uma é descobrir caminhos de desenvolvimento no Terceiro Mundo, ou mesmo uma redefinição do que significa "desenvolvimento", que pode não coincidir nem com o modelo capitalista nem com o soviético. Mas isto é um problema a ser resolvido na América Latina, Ásia ou África. No Ocidente, o problema é diferente: não sofremos da falta de satisfação de necessidades básicas que existem alhures (naturalmente, muitas necessidades básicas não são satisfeitas, mas isso é um problema de distribuição e de vontade política). O problema aqui é definir um futuro pós-imperialista para as sociedades ocidentais, o que significa uma forma de vida que não dependeria de uma relação insustentável de dominação sobre o resto do mundo. Se alguém quiser chamar isto de "socialismo" é uma questão de definição, mas teria de incluir suficiência sobre recursos energéticos renováveis, uma forma de consumo que não dependesse de enormes importações e um sistema de educação que produzisse a quantidade de pessoas qualificadas que o país precisa. Se tudo isto é compatível com o sistema da propriedade privada dos meios de produção, e um sistema política controlado principalmente por aqueles que possuem estes meios, ainda está para ser visto.
Isto estabelece uma ligação entre a luta pela paz e a luta pela transformação social, porque quanto mais vivermos em paz com o resto do mundo mais desistiremos do nosso poder militar largamente ilusório e cessaremos nossas "ameaças" constantes, mais seremos forçados a pensar e elaborar uma ordem económica alternativa. Para a esquerda, a derrota dos EUA no Iraque, trágica como é a guerra, deveria ser compreendida como boa notícia. Não só a causa dos EUA é injusta como a derrota levantará, ou pelo menos deveria levantar, algumas questões fundamentais acerca da estrutura das nossas sociedades e a sua dependência de um imperialismo cada vez mais insustentável.
É uma grande tragédia que entre os Verdes, pelo menos entre aqueles europeus, esta ligação tenha sido totalmente perdida durante as guerras do Kosovo e do Afeganistão, pois a maior parte deles apoiou-as com argumentos humanitários. É igualmente trágico que a oposição nos Estados Unidos à guerra do Iraque tenha sido virtualmente não-existente e que a população se tenha voltado contra a guerra quase inteiramente devido à efectividade da resistência iraquiana. Isto deve-se em parte às deturpações ideológicas que se difundiram amplamente na esquerda durante o período da reconstrução ideológica imperial que se seguiu ao fim da guerra do Vietnam, especialmente quanto ao "direito" de "intervenção humanitária". A esquerda deve clarificar suas próprias ideias e a seguir tentar explicar ao resto das nossas sociedades que devemos adaptar-nos a uma perda de hegemonia inevitável. Na verdade, não existe alternativa real para o Ocidente, excepto o retorno ao espírito da Batalha de Somme, mas desta vez armados com dispositivos nucleares.
O início da Batalha de Somme foi a 1 de Julho de 1916. Só nesse dia os britânicos sofreram mais de 50 mil baixas, das quais 20 mil mortos. A batalha perdurou por quatro meses, levando a cerca de um milhão de baixas em todos os lados, e a própria guerra continuou por mais dois anos.
No verão de 2006 o exército israelense interrompeu seus ataques ao Líbano depois de perder cerca de uma centena de soldados. A maioria da população estadunidense voltou-se contra a guerra do Iraque depois de menos de 3000 mortos. Isto indica uma grande mudança na mentalidade do Ocidente, e a sua relutância em morrer em grandes números "por Deus e pela Pátria" é um grande avanço na história da espécie humana. Do ponto de vista neoconservador, contudo, este fenómeno é um sinal de decadência. De facto, na sua perspectiva, um dos aspectos positivos do actual conflito é que pode fortalecer a fibra moral do povo americano, tornando-o pronto a "morrer por uma causa".
Mas, até agora, isto não está a funcionar. Gente mais realista, como os planeadores do Pentágono por exemplo, tentaram substituir ondas de carne para canhão por bombardeamento "estratégico" maciço. Isto raramente funciona – no Kosovo e na Sérvia teve êxito, pelo menos ao levar ao poder clientes pró-ocidentais em ambos os lugares. Mas, claramente, não está a funcionar satisfatoriamente no Iraque, Afeganistão, Palestina ou Líbano. A única coisa que pode ter êxito, claro que num sentido muito especial, seria as armas nucleares, e o facto de estas armas serem a última esperança militar do Ocidente é realmente assustador.
Para por esta observação num contexto mais global, os ocidentais nem sempre percebem o facto de que o maior evento do século XX não foi nem a ascensão e queda do fascismo, nem a história do comunismo, mas sim a descolonização. Alguém deveria recordar que, há cerca de um século, a Grã-Bretanha podia proibir o acesso a um parque em Shangai aos "cães e chineses". Para dizer isto de forma suave, tais provocações já não são possíveis. E, naturalmente, a maior parte da Ásia e da África estava sob controle europeu. A América Latina era formalmente independente, mas sob a tutela americana e britânica, e as intervenções militares eram rotina.
Tudo isto entrou em colapso durante o século XX, através de guerras e revoluções. De facto, o principal efeito que perdurou da Revolução Russa é provavelmente o apoio significativo da União Soviética ao processo de descolonização. Este processo libertou centenas de milhões de pessoas de uma das mais brutais formas de opressão. É um grande progresso na história da humanidade, semelhante à abolição da escravatura nos séculos XVIII e XIX.
Ainda assim, é verdade que o sistema colonial deu lugar ao neocolonial e que a maior parte dos países descolonizados adoptou, pelo menos por agora, uma forma capitalista de desenvolvimento. Isto proporcionou alguma consolação aos ex-colonialistas (e desapontamento à esquerda ocidental que se opôs ao colonialismo). Mas tais sentimentos podem reflectir uma má compreensão da natureza do "socialismo" no século XX e do significado histórico do presente período.
Antes de 1914, todos os movimentos socialistas, quer fossem libertários ou estatistas, reformistas ou revolucionários, encaravam o socialismo, isto é, a socialização dos meios de produção, como uma etapa histórica que era suposta suceder ao capitalismo nas sociedades ocidentais relativamente desenvolvidas, com um sistema de educação em funcionamento e uma cultura basicamente liberal e secular. Tudo isto desapareceu com a I Guerra Mundial e a Revolução Russa. Depois disso, os aspectos libertários do socialismo atrofiaram-se, a maior parte do movimento socialista europeu tornou-se cada vez mais incorporado ao sistema capitalista e o seu sector radical principal, os comunistas, identificaram o socialismo com quaisquer políticas que fossem adoptadas pelo modelo soviético.
Mas aquela quase nada tinha a ver com o socialismo tal como era geralmente entendido antes da I Guerra Mundial. Deveria antes ser considerado como uma (especialmente exitosa) tentativa de desenvolvimento económico rápido de um pais subdesenvolvido, uma tentativa de alcançar, cultural, económica e militarmente, por quaisquer meios necessários, o Ocidente. O mesmo é verdadeiro em relação às revoluções pós-soviéticas e movimentos de libertação nacional. Numa primeira aproximação, alguém poderia dizer que por todo o Terceiro Mundo os povos, ou melhor, os governos, tentaram "alcançar" tanto por meios "socialistas" como "capitalistas".
Mas, se se reconhecer este aspecto, toda a história do século XX pode ser interpretada de modo muito diferente ao que prevalece: o do "socialismo que foi tentado e fracassou por toda a parte". O que foi tentada e realmente teve êxito (quase) em toda a parte foi a emancipação do domínio ocidental. Isto inverteu um processo secular de expansão europeia e de hegemonia sobre o resto do mundo. O século XX não foi o do socialismo, mas sim o do anti-imperialismo. E esta inversão é provável que continue durante o século XXI. A maior parte do tempo o "Sul" está a fortalecer-se, com alguns retrocessos (o período em torno do colapso da União Soviética sendo um tempo de regressão, deste ponto de vista).
Isto tem importantes consequências tanto para o movimento pela paz ocidental como para a velha questão do socialismo. Há alguma verdade na ideia leninista de que os benefícios do imperialismo corrompem a classe trabalhadora ocidental não apenas em termos puramente económicos (através da exploração da colónias) como também através do sentimento de superioridade que o imperialismo implantou nas mentes ocidentais. Entretanto, isto está a mudar devido a duas razões. Por um lado, a "globalização" significa que o Ocidente tornou-se mais dependente do Terceiro Mundo: nós não importamos simplesmente matérias-primas ou exportamos capital, também dependemos do trabalho barato, tanto aqui como em fábricas no exterior orientadas para a exportação; "transferimos" capital do Sul para o Norte através de "pagamentos da dívida" e fuga de capitais, e importamos um número crescente de engenheiros e cientistas. Além disso, "globalização" significa que reduz-se a ligação entre a população dos EUA e as suas elites ou os seus capitalistas, cujos interesses estão cada vez menos ligados àqueles do "seu" país. Se a população reagirá pela adopção de algumas fantasias pró-imperialistas tais como o sionismo cristão ou a "guerra contra o terrorismo" ou se, ao contrário, aumentará a sua solidariedade para com os países emergentes do Sul, é o grande desafio do futuro.
Por outro lado, a ascensão do Sul significa que já não há uma correlação de forças militar que permita ao Ocidente impor a sua vontade, sendo a derrota americana no Iraque a mais extraordinária ilustração deste facto. Naturalmente, há outros meios de pressão económica através de chantagem, boicotes, compras de eleições, etc. Mas também estão a ser tomadas cada vez mais contra-medidas para se opor a tais métodos, e nunca se deve esquecer que uma correlação de forças afinal das contas é sempre militar. Sem isto, como se faz, por exemplo, para um povo pagar as suas dívidas?
O principal erro dos comunistas foi ter fundido duas noções de "socialismo": a que existia antes da I Guerra Mundial e o desenvolvimento rápido da União Soviética. Mas a situação actual levanta duas questões diferentes para as quais duas diferentes formas de "socialismo" podem constituir a resposta. Uma é descobrir caminhos de desenvolvimento no Terceiro Mundo, ou mesmo uma redefinição do que significa "desenvolvimento", que pode não coincidir nem com o modelo capitalista nem com o soviético. Mas isto é um problema a ser resolvido na América Latina, Ásia ou África. No Ocidente, o problema é diferente: não sofremos da falta de satisfação de necessidades básicas que existem alhures (naturalmente, muitas necessidades básicas não são satisfeitas, mas isso é um problema de distribuição e de vontade política). O problema aqui é definir um futuro pós-imperialista para as sociedades ocidentais, o que significa uma forma de vida que não dependeria de uma relação insustentável de dominação sobre o resto do mundo. Se alguém quiser chamar isto de "socialismo" é uma questão de definição, mas teria de incluir suficiência sobre recursos energéticos renováveis, uma forma de consumo que não dependesse de enormes importações e um sistema de educação que produzisse a quantidade de pessoas qualificadas que o país precisa. Se tudo isto é compatível com o sistema da propriedade privada dos meios de produção, e um sistema política controlado principalmente por aqueles que possuem estes meios, ainda está para ser visto.
Isto estabelece uma ligação entre a luta pela paz e a luta pela transformação social, porque quanto mais vivermos em paz com o resto do mundo mais desistiremos do nosso poder militar largamente ilusório e cessaremos nossas "ameaças" constantes, mais seremos forçados a pensar e elaborar uma ordem económica alternativa. Para a esquerda, a derrota dos EUA no Iraque, trágica como é a guerra, deveria ser compreendida como boa notícia. Não só a causa dos EUA é injusta como a derrota levantará, ou pelo menos deveria levantar, algumas questões fundamentais acerca da estrutura das nossas sociedades e a sua dependência de um imperialismo cada vez mais insustentável.
É uma grande tragédia que entre os Verdes, pelo menos entre aqueles europeus, esta ligação tenha sido totalmente perdida durante as guerras do Kosovo e do Afeganistão, pois a maior parte deles apoiou-as com argumentos humanitários. É igualmente trágico que a oposição nos Estados Unidos à guerra do Iraque tenha sido virtualmente não-existente e que a população se tenha voltado contra a guerra quase inteiramente devido à efectividade da resistência iraquiana. Isto deve-se em parte às deturpações ideológicas que se difundiram amplamente na esquerda durante o período da reconstrução ideológica imperial que se seguiu ao fim da guerra do Vietnam, especialmente quanto ao "direito" de "intervenção humanitária". A esquerda deve clarificar suas próprias ideias e a seguir tentar explicar ao resto das nossas sociedades que devemos adaptar-nos a uma perda de hegemonia inevitável. Na verdade, não existe alternativa real para o Ocidente, excepto o retorno ao espírito da Batalha de Somme, mas desta vez armados com dispositivos nucleares.